“Ter a estátua ali, de pé, fria,
olhos vítreos, a trespassar-se interminavelmente, era como um filme em que a
mesma cena é filmada cem vezes. A cada estalido do obliterador, os olhos
mergulhavam mais fundo no sonho. Repetição morte e a violência da morte sonho
de vida. Sonho e morte… a mesma cena filmada cem vezes. A cada estalido do
obliterador, os olhos a mergulhar mais fundo. Mármore mudo lambuzado de
erotismo, êxtase negro projectado no écran branco das fantasias. Histeria. Histeria
de pedra. Pedra fêmea que se arrepia com a música. Estátua fornicando a
verdade. Estátua masturbando mentiras. Masturbação contínua, obscena… uma
litania de borracha num sonho de borracha. Uma mulher histérica com órgãos de
mármore, uma mulher de mármore com órgãos histéricos, uma pedra-fêmea vomitando
as tripas é uma fonte de fogo rompendo o gelo. Uma mulher histérica pode
acreditar em tudo..."
Henry Miller – “Crazy Cock” - 1991
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