31/07/2021

Crazy Cock

   “Ter a estátua ali, de pé, fria, olhos vítreos, a trespassar-se interminavelmente, era como um filme em que a mesma cena é filmada cem vezes. A cada estalido do obliterador, os olhos mergulhavam mais fundo no sonho. Repetição morte e a violência da morte sonho de vida. Sonho e morte… a mesma cena filmada cem vezes. A cada estalido do obliterador, os olhos a mergulhar mais fundo. Mármore mudo lambuzado de erotismo, êxtase negro projectado no écran branco das fantasias. Histeria. Histeria de pedra. Pedra fêmea que se arrepia com a música. Estátua fornicando a verdade. Estátua masturbando mentiras. Masturbação contínua, obscena… uma litania de borracha num sonho de borracha. Uma mulher histérica com órgãos de mármore, uma mulher de mármore com órgãos histéricos, uma pedra-fêmea vomitando as tripas é uma fonte de fogo rompendo o gelo. Uma mulher histérica pode acreditar em tudo..."
Henry Miller – “Crazy Cock” - 1991