29/10/2009

Rui Eduardo Paes

Conheci os escritos de Rui Eduardo Paes nas páginas do jornal Blitz em finais dos anos 80/princípios dos 90. A rubrica “Bestiário” assinada por Eduardo Paes despertou-me a atenção para diversos músicos e obras que desconhecia completamente. A colaboração de Rui Eduardo Paes no Blitz serviu para atenuar a saída do crítico Fernando Magalhães para o jornal Público que estava a nascer, na medida em que os seus textos eram também fundamentados e desafiantes.
Desde essa altura, Rui Eduardo Paes tem desenvolvido uma intensa actividade enquanto crítico, escritor, divulgador e ensaísta em diversas publicações nacionais e estrangeiras. Os livros que publicou serão hoje relativamente difíceis de adquirir em livrarias, pois foram todos publicados pela editora Hugin, que entretanto fechou as portas, mas que valem muito a pena serem procurados em alfarrabistas e feiras de livros usados.
Actualmente, além de outras actividades, Rui Eduardo Paes é o editor da revista mensal Jazz.pt e mantém um website com actualizações regulares. Foi aí que publicou uma lista dos 25 discos (mais uns) que considera como os mais relevantes das novas músicas portuguesas. Como seria de esperar, é uma lista que escapa totalmente às escolhas habituais:

1. Carlos Zíngaro: “Solo” (In Situ, 1991)
2. Carlos Zíngaro: “Cage of Sand” (sirr, 2002)
3. Telectu: “Theremin Tao” (SPH / Extasis, 1993)
4. Vítor Rua: “Sax Works” (Nova Musica, 2003)
5. Ernesto Rodrigues/Jorge Valente: “Self Eater and Drinker” (audEo, 1999)
6. Ernesto Rodrigues/Alfredo C. Monteiro/Guilherme Rodrigues /Margarida Garcia: “Cesura” (Creative Sources Recordings, 2003)
7. Alfredo Costa Monteiro: “Stylt” (Absurd, 2005)
8. Osso Exótico: “Osso Exótico V” (AnAnAnA, 1997)
9. David Maranha: “Piano Suspenso” (Sonoris, 1998)
10. Nuno Rebelo: “Azul Esmeralda” (AnAnAnA, 1998)
11. Miso Ensemble: “Vol. 2 – Música para Flauta e Percussão” (Miso Music, 1991; reed., 2003)
12. António José Ferreira: “Música de Baixa Fidelidade” (Ama Romanta, 1988; reed. Plancton Music, 2002)
13. Carlos Bechegas/Michel Edelin: “Open Frontiers” (Forward Records, 2003)
14. Emanuel Dimas de Melo Pimenta: “Book One” (ASA Art & Technology, 1997)
15. Mola Dudle: “Mobília” (AnAnAnA, 2001)
16. Sei Miguel: “Token” (AnAnAnA, 1999)
17. No Noise Reduction: “On Air” (AnAnAnA, 1996)
18. Rafael Toral: “Aeriola Frequency” (Perdition Plastics, 1998)
19. @c: “v3” (Crónica, 2004)
20. Manuel Mota: “Leopardo” (Rossbin, 2002)
21. Paulo Raposo/Carlos Santos: “Insula Dulcamara” (sirr, 2003)
22. Vítor Joaquim: “La Strada is on Fire (And We Are All Naked)” (Crónica, 2003)
23. Lisbon Improvisation Players: “Live_Lx Meskla” (Clean Feed, 2002)
24. Américo Rodrigues: “Aorta Tocante” (Bosq-íman:os Records, 2005)
25. Bernardo Devlin: “Circa 1999 – 9 Implosões” (ExtremOcidente, 2003)
E ainda:
- Emídio Buchinho: “Transducer” (BE REC.S, 2002)
- Anabela Duarte Digital Quartet: “Blank Melodies” (Zounds, 2005)
- Vários Artistas: “Antologia de Música Electrónica Portuguesa” (Plancton, 2004)

16/10/2009

A Questão da Água

Infelizmente o debate autárquico não incidiu sobre algumas questões essenciais, designadamente a questão da água. Parece-me, que passados quase 5 anos da privatização de 49% do capital da Agere, será de toda a pertinência reflectir sobre diversos aspectos que permanecem desconhecidos:
1 – O que levou Mesquita Machado a mudar completamente a sua opinião sobre a privatização de determinados serviços públicos?
2 – Porque é que se privatizou 49% da Agere em 2005 por 26,5 milhões de euros, quando se recusou em 1999 uma proposta de 12 milhões de contos (60 milhões de euros) para a concessão do serviço de abastecimento de água? Para esta análise deve ainda ser tida em conta a participação maioritária na Braval, o aumento acumulado do número de clientes e a capitalização dos 60 milhões de euros ao longo de 6 anos.
3 – Quais foram as contrapartidas para os bracarenses desta privatização? - O que é que foi feito com o montante recebido da privatização? – Valeu a pena?
4 – Qual foi a evolução dos preços das tarifas e serviços praticados pela Agere ao longo destes últimos anos? – A qualidade do serviço prestado às populações melhorou?
5 – Conjugar a análise dos preços praticados pela Agere e os valores das indemnizações compensatórias pagas pela Câmara de Braga à Agere e verificar o valor final da factura paga pelos bracarenses.
6 - Analisar a evolução das indemnizações compensatórias pagas pela Câmara e o valor dos dividendos (lucros) distribuídos aos accionistas privados.
Estas e muitas outras questões necessitam de uma análise urgente. São estas questões que interessam a todos os bracarenses, certamente muito mais que a organização de excursões à Malafaia.

13/10/2009

As eleições em Braga

Mesquita Machado é um opositor muito forte: - sustenta-o uma teia clientelar urdida ao longo de 33 anos à frente da Câmara de Braga; - tem a vantagem dos que estão no poder e que usam e abusam das inaugurações como principal instrumento de campanha; - os recursos financeiros que dispõe para a campanha eleitoral são praticamente ilimitados; - é um rosto conhecido, familiar, com o qual muitos bracarenses ainda se identificam; - beneficia do apoio explícito de alguns órgãos de comunicação social locais; - e por fim, mas não menos importante, tem obra realizada.
Qualquer candidato teria imensas dificuldades em derrotá-lo no seu terreno.
Ricardo Rio foi um oponente à altura do desafio. Perdeu, mas tem todas as condições para sair vitorioso nas eleições de 2013, desde que não repita os erros cometidos nestas eleições. O principal erro residiu na constituição da lista à Câmara Municipal, onde Ricardo Rio lidera uma equipa, que certamente será valorosa, mas à qual não se conhece uma única ideia para Braga, qualquer intervenção cívica ou mérito especial. Ricardo Rio falou sempre sozinho, e para derrotar Mesquita Machado era necessário trabalho de equipa; - o pouco destaque que deu aos jovens nas diversas listas, também o enfraqueceu em relação ao seu principal opositor; - o apoio dado a candidatos como Seco Magalhães em Maximinos e a António Machado em Fraião, entre outros, foi embaraçoso para a sua mensagem de mudança; - o discurso mole em relação à substituição de chefias, de protagonistas e rostos do “Mesquitismo”, além de não conquistar qualquer voto nesse terreno, induz mais dúvidas nos indecisos e torna ainda mais penosa a transferência de votos “úteis” dos eleitores habituais do Bloco de Esquerda.
Vamos ver o que nos reserva o último mandato autárquico de Mesquita Machado e esperar que Ricardo Rio seja consequente com a confiança demonstrada por mais de 41.000 bracarenses.

08/10/2009

02/10/2009

O Balanço Negro da Cultura

A cultura tem sido sistematicamente o parente pobre da governação de Mesquita Machado à frente da Câmara de Braga. As expectativas para o mandato que agora termina não eram naturalmente muitas, não se esperava muito mais do que é costume, mas a reabertura do Teatro Circo e a promessa feita na ressaca da perda da Capital Europeia da Cultura para Guimarães, que Braga seria capital da cultura todos os dias, poderiam ser um prenúncio que algo iria mudar.
Infelizmente, confirmaram-se as piores expectativas e o balanço apresentado por Mesquita Machado dos quatro anos de mandato é disso o exemplo mais esclarecedor: Teatro Circo; “Braga Romana”; Mimarte – Festival de Teatro de Braga; Salas de Ensaio para bandas musicais; início da construção da Escola de Música no Carandá; projecto de requalificação da antiga Estação da CP.
O Teatro Circo reabriu há três anos e as expectativas criadas à sua volta foram completamente defraudadas, não conseguindo gerar qualquer dinâmica cultural na cidade. Os custos de funcionamento são elevadíssimos, muito contribuindo as remunerações principescas do Director Artístico Paulo Brandão e do Administrador-Delegado Rui Madeira, sem que daí resultem quaisquer mais-valias em termos de programação, que se limita a cumprir os serviços mínimos. Mais grave foi a opção pela construção do Palco Alternativo no piso inferior, que fez disparar a factura final da obra para inacreditáveis 25 milhões de euros. Em três anos de funcionamento realizaram-se pouco mais de 100 eventos nesse Palco, a esmagadora maioria dos quais apresentações da Companhia de Teatro de Rui Madeira. A opção correcta teria sido reabilitar o Teatro Circo na sua forma tradicional e utilizar o dinheiro esbanjado na sala de Rui Madeira para dotar a cidade de um Centro Cultural polivalente.
A inclusão da “Braga Romana” na actividade cultural é, no mínimo, hilariante: - tendas a vender todo o tipo de bugigangas, são cultura? - Barracas com comes e bebes, são cultura? – Mesquita Machado vestido com um lençol branco, é cultura?
Evidentemente, a “Braga Romana” nos moldes que é realizada não é cultura, mas sim animação de rua. Por este andar ainda vamos ver o jogo da sueca passar por cultura…
O Festival de Teatro Mimarte é uma boa iniciativa, que deve manter-se e alargar a sua intervenção a outros locais do Concelho de Braga.
Em relação às Salas de Ensaio para bandas de música instaladas numa das bancadas no Estádio 1.º de Maio, são relevantes, mas são uma obra do mandato autárquico de 2005. O desespero e a míngua de realizações na área cultural é tanta, que não houve outra solução para apresentar meia dúzia de linhas na acção cultural da Câmara, senão recorrer a obras de mandatos anteriores.
Por fim, a Escola de Música no fracassado Mercado Cultural do Carandá e o projecto de requalificação da antiga Estação da CP. Falamos aqui de propostas, ideias, projectos, promessas sempre adiadas, e não de obra feita.
Num tempo em que a cultura é considerada como um factor determinante para o desenvolvimento económico e social, com reflexos directos em áreas tão distintas como a indústria, comércio, turismo, educação, criação artística, investigação, tecnologia, atracção de novos habitantes e investimentos, etc., é penoso vermos a cidade de Braga desperdiçar todo o seu enorme potencial. Assim não vamos lá.
[também publicado na edição de 07/10/2009 do jornal Diário do Minho]