30/09/2007

Stencil de 157 - Odeceixe - Aljezur - Agosto 2007

28/09/2007

Marco Mendes na Plumba

A Galeria Plumba no Porto apresenta a exposição individual de Marco Mendes intitulada “Uma Formiga na Saia do Universo”. Marco Mendes é um dos principais dinamizadores do projecto A Mula, que tem editado diversos fanzines, realizado feiras de edições independentes e diversos outros eventos.
Nesta exposição a solo apresentam-se trabalhos produzidos entre 2004 e 2007, e podem ser vistos até finais de Outubro.
Mais informações em diário rasgado.

26/09/2007

Ao cabo de dois anos de publicação a revista K passa por momentos conturbados, sendo viabilizada pelo novo proprietário a Presslivre. Reaparece nas bancas em Novembro de 1992 com novo grafismo e um renovado ímpeto editorial. A nova edição assume-se como “Número de Colecção”, chamando Rui Chafes para a capa e entrevista de fundo.
É também neste número que é publicado o célebre Manifesto em 42 pontos a denunciar o estado da
arte.
Em complemento, apresentam uma classificação dos artistas contemporâneos portugueses nas seguintes categorias: os mesmo bons (Palolo, Croft, Molder R. Sanches, Gaëtan, Miguel Branco e Chafes); os bons; sobrestimados (Paula Rego); desenham bem, mas pintam mal (J. Pomar); viajam muito; brincalhões com graça; brincalhões sem graça; tanto trabalho pra isto; empadões; pode ser que alguém compre isto; onde é que eu já vi isto; chatos absolutos; pintam com a boca e com os pés; prémio especial Moviflor (Gerardo Burmester); a Maria Guinot do pincel (Graça Morais); o Taveira do pincel (Leonel Moura), etc.
A Kapa voltava para um último fôlego mais virulenta do que nunca.

Os restos imortais da revista repousam aqui.

23/09/2007

Revista K

A revista K surgiu em Outubro de 1990 dirigida por Miguel Esteves Cardoso tendo durado cerca de três anos. Apesar da sua curta existência, a revista deixou marcas profundas nos seus leitores e no panorama editorial português.
Na Kapa havia lugar para rubricas dedicadas ao divertimento, delírios, apresentação de portfolios, entrevistas mais ou menos sérias, até colunas sobre filosofia, dinheiro, arte, alma, política e família.
Aliando um projecto gráfico bastante arrojado e uma linha editorial ousada, a revista contava com colaboradores como: António Cerveira Pinto, Catarina Portas, Edgar Pêra, Eduardo Cintra Torres, Filipe Alarcão, Graça Lobo, Hermínio Monteiro, João Bénard da Costa, José Fonseca e Costa, Nuno Rogeiro, Pedro Ayres de Magalhães e Pedro Rolo Duarte; e colunistas como: Agustina Bess
a-Luís, Maria Filomena Molder, Leonardo Ferraz de Carvalho, Paulo Portas e Vasco Pulido Valente.
Mesmo a moda e a publicidade mereciam uma abordagem diferente do habitual, servida por textos de ficção e produções muito criativas. A revista era iconoclasta ao ponto de recensear literatura séria e a seguir um qualquer filme porno, a alta e a baixa cultura lado a lado. Tanto sublinhava os amores como os ódios de estimação, tanto reflectia sobre a actualidade como abordava o tema mais inusitado, sempre com muita ironia à mistura.
Era uma revista que arriscava, no fio da navalha.








Desinformação
Vivemos na idade da informação. Nunca foi tão fácil a tantas pessoas estarem tão bem informadas acerca de tantos assuntos. Óptimo. O pior é aceitarmos acriticamente que a informação é sempre boa, útil e formativa. A verdade é que nunca houve tantas bestas bem informadas. É muito mais fácil uma pessoa informar-se sobre um assunto do que pensar acerca dele. A partir de certa altura, um excesso de informação pode prejudicar a compreensão de dado acontecimento. Hoje, muitas pessoas informam-se em vez de tentar compreender.
É a mulher que sabe tudo acerca dos filmes em cartaz, mas não viu nenhum. É o homem que segue cada passo dos acontecimentos na Roménia sem parar para tentar compreender o que se passa. É o jurista que conhece toda a legislação mas é incapaz de ter uma discussão sobre conceitos de justiça.
A informação pode ser brutal ao ponto de prejudicar a comunicação. As notícias, em vez de serem pontos de partida, tornam-se em fins. As pessoas, em vez de discutirem eventos e significados, partilham conhecimentos. Em vez de produzirem argumentos, reproduzem factos. Através da mera partilha de informação cria-se assim uma comunidade artificial.
Não há expressão mais mentirosa do que "comunicação social". Que comunicação existe? Apenas se comunica a - não se comunica com. Isto é, não se comunica. Informa-se. O mal está no facto de não haver reciprocidade.
Claro que os chamados meios de comunicação social não ouvem o público a que se dirigem. O velho lugar-comum do "diálogo com o leitor" é uma treta em que ninguém acredita. O mal é que a indiferença com que se distingue quantidade e qualidade de informação torna cada vez mais difícil ao cidadão médio ter opiniões pessoais acerca do que o rodeia.
Há qualquer coisa de arrogante e insuportável no acto de "informar", tal qual ele se concebe modernamente, cheio de gráficos, sondagens, esquemas e painéis equilibrados. Há uma pretensão de definição e cobertura que, além de ridícula, parece violenta, por não admitir discussão. A discussão surge "já feita". O leitor limita-se a escolher uma das posições.
Esta revista vai ser mais comunicativa do que informativa. O nosso objectivo não é sermos respeitados, compreendidos, seguidos, ou representados ou definitivos - é sermos lidos.
Editorial da K número 1, Outubro de 1990.

22/09/2007

Fernando Calhau | Desenho 1965/2002

O Centro Cultural Vila Flor em Guimarães apresenta cerca de 200 desenhos de Fernando Calhau (1948-2003) pertencentes ao espólio doado pelo artista ao Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian. A exposição comissariada por Nuno Faria, estará patente entre 22 de Setembro e 30 de Dezembro.
A visitar urgentemente.

19/09/2007

A Manivela do Tempo

Os artistas Paulo Bonito e Ricardo Fiuza apresentaram em conjunto a exposição Hurdy Gurdy - A Manivela do Tempo na Velha-a-Branca entre 9 Dezembro e 12 Janeiro de 2006. O ponto de partida para este projecto foi o gosto comum por música. A obra “Touch Works” – (For Hurdy Gurdy and Voice) de Phill Niblock serviu de banda sonora.Os autores produziram diversos estudos, esboços e textos durante a preparação da exposição que compilaram em pequenos cadernos. O fanzine recolhe uma selecção desses cadernos, acrescentada com outros trabalhos realizados no âmbito deste projecto.
Paulo Bonito apresenta desenhos impressionistas e textos poéticos entre o introspectivo e o alucinatório. Os textos são desprendidos de regras e sentidos evidentes, antes apontando para uma torrente referencial: recordações de infância, tocadores de realejo, proletariado e revolução industrial, cinema e documentários, concertos de música, e tudo mais.
Por outro lado, os desenhos a tinta-da-china de Ricardo Fiuza são intrincadas estruturas circulares que criam formas muito orgânicas. A repetição dos sons, o drone, induzindo um estado de transe, a “flor perfeita” como arquétipo efémero e mágico da beleza, a poesia de Paul Valéry, aforismos orientais, são alguns dos tópicos explorados pelo autor na busca da sublimação dos dois mundos: o interior e o exterior.
A edição limitada e personalizada de 71 exemplares era acompanhada por um clip metálico produzido numa máquina de fazer espirais. Phill Niblock e o disco Perpetuum Mobile dos Einsturzende Neubauten foram o fundo musical na festa de lançamento do fanzine.

Fanzine A5 policopiado, 24 págs. Arranjo gráfico: Helena Carneiro. Edição: Velha-a-Branca - estaleiro cultural, Braga, Fevereiro de 2006.

17/09/2007

Stencil de DOLK - Bairro Alto - Lisboa - Agosto de 2007

15/09/2007

O Melhor Café

O livro “O Melhor Café” editado em finais de 1996 constitui uma bela homenagem à Brasileira bracarense feita através das fotografias de Alfredo Cunha e das palavras de Pedro Rosa Mendes.
O livro abre com um texto, o mais longo de todos, que enquadra historicamente o surgimento d’A Brasileira em 17 de Março de 1907, iniciativa de Adolpho de Azevedo, próspero negociante do Porto. Nesta fase, a escrita segue de perto a pesquisa documental feita pelo autor, de onde transparece a Braga imutável, ontem como hoje, «a província como reserva cinegética do aborrecimento e os cafés como única alternativa de evasão à boçalidade medieval.» A Brasileira veio juntar-se a um punhado de outras casas de café e bilhares, onde os bracarenses buscavam convívio e jogo.
A ambiência económica, social e política da cidade no início do séc. XX surge enredada no quotidiano do café. O autor utiliza Joaquim Chaves (1903-1977), o cliente mais famoso da Brasileira, com direito a placa de mármore na parede, para servir de cicerone em várias narrativas sobre as décadas de Salazar e da PIDE.
Os textos aparecem intercalados com as fotografias, nunca se misturam. A um bloco de escrita segue-se um bloco de fotografias a preto e branco, sem qualquer tipo de texto ou legenda. A cada imagem está reservada uma página inteira, aparecendo mais esporadicamente uma fotografia a estender-se por duas páginas.
As imagens foram recolhidas em cinco dias do Verão de 1996, e retratam a fauna frequentadora do café, os empregados, os velhotes, o engraxador de sapatos e também as idiossincrasias do espaço e os pormenores do mobiliário. As fotos dos andares de cima, onde estão depositados os velhos bilhares e o mobiliário em desuso, são fantasmas dum tempo remoto que já não pode ser reencontrado.
Os quatro textos seguintes são curtos e têm um registo mais memorialistico, fruto das conversas desenroladas à mesa do café. Pretende-se oferecer múltiplos pontos de vista: do patrão, do empregado com mais de três décadas de casa, da velha viúva que é cliente diária há mais de 40 anos e fica perdida quando a Brasileira encerra para descanso semanal, e a Brasileira como ponto de encontro antes de jantar duma certa elite cultural, que tem como regra de ouro nunca se sentar na parte de baixo do café, embora não saiba explicar porquê?...
Das veredas da memória surgem histórias como a da actual Brasileira já ter sido dois cafés, em cima a Brasileira, e em baixo, pela Rua de S. Marcos o Café Sporting. O aparecimento da Brasileira Nova, em frente do outro lado da rua, sendo a Rua S. Marcos apelidada de “linha Maginot”: de um lado os progressistas, do outro os germanófilos.
As várias fases do café, dos padres Vaz, e dos outros clérigos em dias de feira, os clientes diários com horário certo e escrupulosamente cumprido, as coscuvilhices sussurradas e a maledicência longamente cultivada, o relance embaciado para o rio de gente que escoa pela rua abaixo, etc.
No ano da comemoração do centenário da Brasileira, lamenta-se que esta obra esteja indisponível nas livrarias, pois é um retrato de valor inestimável dum determinado microcosmos que metaforiza a sociedade bracarense do último século.
Alfredo Cunha e Contexto Editora, 1996
Textos de Pedro Rosa Mendes
Impresso em Novembro de 1996
116 págs. - 24,2 x 29 cm

13/09/2007

Fundação Utópica

A Fundação Cultural Bracara Augusta foi criada em 1996 pela Câmara de Braga, a Universidade do Minho, a Universidade Católica e o Cabido de Braga com a finalidade de realizar e/ou apoiar iniciativas de carácter cultural e social. Na realidade, nunca percebi muito bem para que é que serve esta Fundação, que tem como Presidente Maria do Céu Sousa Fernandes e como Presidente do Conselho de Administração (??) o inevitável Rui Madeira.
Anunciaram agora o lançamento de um novo ciclo de conferências, a primeira das quais subordinada ao tema: “A Utopia: uma leitura actual”. Sobre o tema Rui Madeira afirma: “os seres humanos não podem viver fora das utopias. É o que nos alimenta”. Maria do Céu Fernandes, mais comedida, questiona se “será possível um mundo novo?”.
Nada me deixa mais tranquilo e esperançado num futuro melhor do que ver a bandeira da utopia empunhada por tão extremosas mãos.
(foto sacada no site do Diário do Minho.)

BRENDAN PERRY - Eye of the Hunter

Com a dissolução dos Dead Can Dance em 1998, findou um dos projectos mais emblemáticos da editora 4AD. Os Dead Can Dance, juntamente com os Cocteau Twins e os This Mortal Coil formavam o núcleo central duma estética assente numa sonoridade gótica etérea e numa imagem gráfica muito cuidada a cargo Vaughan Oliver e da V23.
Ao contrário de Lisa Gerrard, antiga companheira nos DCD, que muito tem editado desde o final do grupo, o disco Eye of the Hunter de 1999 é o primeiro e até agora, único registo a solo de Brendan Perry. Além deste disco, participou também no tributo a Tim Buckley Sing a Song for You em 2000 e mais recentemente numa música do álbum Clouds Without Water dos ZOAR. Enquanto Lisa Gerrard anda perdida num esoterismo new age completamente inconsequente, Brendan Perry enveredou por um estilo mais clássico. O imaginário medieval, mitológico e encantatório ainda está presente, mas sem os arremedos épicos dos DCD. Os cantautores como Leonard Cohen, Scott Walker, Nick Cave, Van Morrison e especialmente, Tim Buckley, são um referencial importante para o autor. O disco apresenta sete músicas originais e uma versão do tema "I Must Have Been Blind" do referido Buckley.
A voz grave e melódica de Perry assume um papel de destaque num disco essencialmente acústico e com um som muito límpido. O tom geral do disco é melancólico e nocturno, com baladas, alguns elementos folk-country e muito blues. O tema “Voyage of Bran” tem elementos orientalizantes ainda reminiscentes dos DCD. “Medusa” tem naipes de cordas e ritmo de valsa lenta. O final em falsetto de “Sloth” é uma verdadeira surpresa, quebrando alguma solenidade do disco. A percussão só aparece em "The Captive Heart", mas mesmo assim de forma muito esparsa. O disco termina com o tema “Archangel”, espécie de balada fúnebre a lembrar o último Scott Walker.
Eye of the Hunter é um disco subestimado, mas que o tempo consagrará como um clássico.
CAD 9015 - 04/10/1999
Saturday’s Child // Voyage of Bran // Medusa // Sloth // I Must Have Been Blind // The Captive Heart // Death Will Be My Bride // Archangel
Brendan Perry – Voice, 12 String & Electric Guitar, Mandolin, Keyboards // Liam Bradley – Drums, Cymbals // Martin Quinn – Pedal Steel Guitar // Glen Garrett – Electric and Upright Bass // Michael Brunnock – Backing Vocals on Saturday’s Child
Produced, Engineered and Art Direction: Brendan Perry

11/09/2007

SWATCH - "Deux Amoureux"

Em 1988, a Swatch lançou uma edição de três relógios assinados por outros tantos artistas ligados à Fundação Maeght: Valerio Adami, Pol Bury e Pierre Alechinsky.
O artista italiano Valerio Adami apresentou o relógio “Deux Amoureux” onde utiliza com grande mestria o seu traço característico para, num gesto de expressividade e precisão, representar um casal a beijar-se. O desenho é sempre o ponto de partida do trabalho de Adami. Mesmo quando utiliza a cor, esta está sempre confinada aos limites do traço de contorno.
O artista não procura representações realistas, mas sim captar momentos carregados de intensidade e significado. As suas obras são racionalizadas até ao mais ínfimo pormenor, não havendo lugar para elementos desnecessários. Toda a composição gráfica obedece a um propósito bem definido, todos os elementos cumprem uma determinada função essencial.
A representação de casais é recorrente no trabalho de Adami, sejam cenas de
origem mitológica ou do quotidiano. As figuras enlaçam-se criando uma entidade-nova. A fusão dos corpos não resulta, no entanto, em extase de paixão, ressaltando antes uma certa melancolia transcendental.
No relógio "Deux Amoureux", o contraste entre o branco do desenho e o preto do fundo (em negativo), reforça o simbolismo do momento que se eterniza no tempo.
A cidade de Braga recebeu a excelente exposição “A Mão que Pensa, Desenho e Narrativa” de V. Adami, apresentada no Museu Nogueira da Silva entre 24 de Novembro e 18 de Fevereiro de 2006.
Modelo: "Deux Amoureux" (GZ 111) - 1988
Autor: Valerio Adami (Bolonha, 1935)
Edição: 5.000 exemplares

07/09/2007

Bienal de Cerveira - um modelo esgotado

Inaugurou em meados de Agosto a XIV Bienal Internacional de Arte de V.N. de Cerveira, prolongando-se até ao dia 29 de Setembro. Perto de comemorar 30 anos de existência (um dos eventos mais antigos nesta área em Portugal), a Bienal é subordinada ao tema “As novas cruzadas” apresentando várias exposições em Cerveira e nas localidades limítrofes de Valença, Caminha, Paredes de Coura, Melgaço, Monção e em Tui e Goian-Tomiño. Durante a Bienal decorrem também diversos eventos paralelos como concertos, colóquios, prova de vinhos, conferências, lançamento de um livro, etc. De tudo isto, pouco justifica a visita.
Do leque de exposições apresentadas na Bienal, destacam-se apenas as instalações de Zadok Ben-David, vencedor do Grande Prémio, e a de Pascal Nordmann, além, evidentemente, do painel “Ribeira Negra” de Júlio Resende. Ao nível dos eventos paralelos à Bienal, também nada de novo ou de muito relevante é apresentado.
Com o tema “As novas cruzadas”, a organização pretendeu apelar à natural contestação da arte e dos artistas, desafiando-os a criarem obras onde sejam evidenciados os conflitos entre o Médio Oriente e o Ocidente e as suas implicações sociais, políticas, religiosas e económicas. A formulação escolhida de “novas cruzadas”, já encerra em si todo um programa, evidenciando a adopção da perspectiva que o agressor é o Ocidente (cruzados) e o Médio Oriente a vítima pacífica e inocente.
O centro da Bienal é o Fórum Cultural de Cerveira, onde são apresentadas as obras do concurso, os artistas convidados, o painel de Júlio Resende e a exposição de homenagem ao casal Maeght. O modelo (ou a falta dele) adoptado na montagem da exposição está completamente desadequado, pois apresenta-se uma grande quantidade de obras, para “encher o olho” e dar ideia de grandiosidade, mas obtém-se o efeito contrário: trabalhos com qualidade são anulados por muitos outros medíocres colocados ao seu lado. O que se retém no final é uma impressão geral de fraca qualidade. O grande amontoado de obras não provoca qualquer inquietação ou reflexão, mas apenas uma overdose visual.
Também não se percebe o que estão lá a fazer as obras dos artistas convidados, pois não têm qualquer relação com a temática da Bienal. Fica-se com a ideia de que os nomes de Albuquerque Mendes, José de Guimarães, Miguel Palma, Gerardo Burmester, etc. estão lá apenas para darem alguma visibilidade e legitimação artística à Bienal.
O mesmo acontece relativamente à exposição de homenagem à Fundação Maeght, que dispõe de uma das mais importantes colecções de arte moderna de França, com obras de Giacometti, Miró, Bonnard, Braque, Chagall, Léger, Kandinsky, entre outros. Quem julga que vai poder apreciar obras originais daqueles artistas sairá defraudado, pois o que se apresenta são meras reproduções/litografias. Uma vez mais, é utilizado um nome sonante para servir de chamariz.
Vale a pena visitar a instalação “O Espirito do Lugar” de Pascal Nordmann, vencedor do Prémio Revelação, no salão dos Bombeiros de Cerveira. Estranha-se, no entanto, a atribuição do prémio, pois o artista já tem 50 anos de idade e esta instalação tem sido apresentada desde 2004, não se vislumbrando também qualquer relação com o tópico da Bienal. Em Caminha está a instalação “Black Field” de Zadok Ben-David, justo vencedor do Grande Prémio da Bienal. O artista israelita, doou os 10 mil euros do prémio para serem atribuídos a jovens artistas para apoiar a sua formação. As outras exposições espalhadas por Cerveira e arredores são maioritariamente constituídas por trabalhos académicos de estudantes de artes, arquitectura e design. Mesmo considerando que é meritório o apoio aos jovens não se compreende a pertinência no contexto da Bienal, das exposições “Arquitectura Design e Ecologia”, da exposição dos alunos da Escola de Artes de Coimbra, da exposição dos alunos de Arquitectura da Escola Gallaecia, etc. Também aqui, parece que houve apenas a intenção de apresentar exposições “a metro”, para dar a ilusão de que a Bienal tem uma dimensão regional. Mais uma vez, obtém-se um efeito perverso: exposições completamente deslocadas da temática da Bienal, esvaziam o seu sentido e relevância.
Esta edição da Bienal conta com um orçamento de 500 mil euros (cerca de 100 mil contos, na moeda antiga), repartidos pela autarquia (35%), pela empresa DST (30%), Ministério da Cultura (5%), e o restante dividido por diversos patrocinadores públicos e privados. A organização vem afirmando que o adiamento do reconhecimento da Fundação da Bienal e o reduzido suporte financeiro do Ministério da Cultura dificultam a angariação de mais e melhores apoios e uma maior internacionalização.
Sendo louvável a persistência da Bienal numa região periférica e desfavorecida, julgo que com um orçamento tão significativo seria de esperar muito mais qualidade, relevância e ambição.

Esta foi a última Bienal dirigida por Henrique Silva, que se retira após quinze anos à frente do certame. Para o substituir foi designado Augusto Canedo. Espero sinceramente que o novo director consiga reunir uma equipa capaz de repensar e refundar a Bienal, apresentando um novo formato mais consentâneo com o nosso tempo e expectativas. Cerveira e o Minho bem o merecem.
(também publicado na edição de 10/09/2007 do jornal Diário do Minho)

Memorabilia Bienal de Cerveira

05/09/2007

A BRASILEIRA COM CEM*

O café “A Brasileira” foi inaugurado em Março de 1907, comemorando este ano o seu centésimo aniversário. É a altura certa para se fazer uma homenagem a um dos cafés mais emblemáticos e com mais história da cidade de Braga. Embora aberto a todos, o simples facto de, por opção, uma pessoa não o frequentar, frequentar esporadicamente ou assiduamente, é uma tomada de posição, consciente ou inconsciente, de cariz social, cultural e afectiva. O cliente da Brasileira, está a inscrever, a filiar a sua opção numa determinada geografia humana da cidade.
O projecto que propomos é um convite aos frequentadores do café, para realizarem um trabalho com duas páginas, no máximo, sobre o que “A Brasileira” representa para cada um de nós. Os trabalhos podem ser textos, desenhos, fotografias, banda-desenhada, etc., com os quais se editará um fanzine colectivo, de número único, cuja publicação está prevista para o mês de Outubro.

Os trabalhos devem ser entregues até 31 de Agosto de 2007, com a indicação do nome(s) do(s) autor(es), no café “A Brasileira” ou na “Velha- a-Branca” (loja do r/c), onde existe uma pasta para a recolha dos trabalhos. Podem também entregar o trabalho em formato digital, enviando-o para um dos seguintes endereços:
aacs@portugalmail.pt - ricardofiuza@clix.pt

Trabalhos recebidos de: João Catalão, Nuno Gomes, Jorge Moreira, Sebastião Peixoto, Bento Duarte, Vítor Costa, Vítor Silva, Paulo Bonito, Ricardo Fiúza, Alexandre Gonçalves, Madalena Dória, Esmeralda Duarte, César Taíbo, Paulo Trindade, Nuno Cláudio, Sofia Saldanha, Adriano Faria, Pedro Guimarães, Nuna Poliana, Kid, Helena Carneiro, Cláudia Bueso, Manuela & Milucha, Miguel Meira, Paulo Nogueira.

Última chamada para: Alexandre Cristóvam, Paulo Pi, Luís Tarroso, Carlos Veloso, José Delgado, Abel, Rui, Carlos Knorr, Pedro Fafe, Roque, Rui Mendes, Camilo, Vânia, Eduardo Bueso, Rui Pires, Carlos Corais, Adelina Lopes, João Estrada, Betinha, Teresa Silva, Marta Catarino, Rita Costa, Iva Dias, Ana Aguiar, Catarina Miranda, Joana Cordeiro, Nandão, Rui Oliveira, Mª Jesus Condeço, Rui Carvalho, Francisco Areias, João Paulo Moreira, Jorge Ribeiro, Inês Vinagre, Jaime Manso, entre outros.

*(título provisório)

04/09/2007

Stencil em Odeceixe - Aljezur - Agosto de 2006

03/09/2007

Fanzine editado no final do curso de banda desenhada organizado pela Velha-a-Branca – estaleiro cultural entre Abril e Maio de 2005. O curso foi orientado por Carlos Dias Tavares, sendo composto por dez sessões. Foram apresentados sete trabalhos para publicação no fanzine. A primeira edição de 75 exemplares, denominada Deluxe era impressa a cores e esgotou rapidamente. No dia do lançamento, foi organizada uma tertúlia sobre banda desenhada que contou com a participação do formador Carlos Dias Tavares, de Arlindo Fagundes, de Pedro Morais e de Paulo Patrício.
A segunda edição de 125 exemplares, denominada Pop, diferia da primeira pois tinha capa a cores, mas o miolo era a preto e branco.
Como é habitual em publicações colectivas de final de curso, observa-se uma grande diversidade de estilos e técnicas e algum desequilíbrio ao nível da qualidade dos trabalhos apresentados. De qualquer forma, este tipo de edição é meritório, pois constitui para os participantes um desafio e uma primeira oportunidade de mostrarem publicamente o seu trabalho. Era importante que este tipo de iniciativas tivesse seguimento e surgissem novos trabalhos e novos autores. Mais ainda, numa cidade onde o marasmo ao nível das publicações amadoras é total.
Ambas as edições estão esgotadas há bastante tempo. Tenho alguns (poucos) exemplares extra que poderei estar interessado em trocar por outros fanzines.
Participantes: Paulo Felgueiras com “Faces de Paixão” - (4 págs. a P&B); Rui Silva com “Bang Bang” – (2 págs. a P&B); Adelino Pereira com “Devolver” – (3 págs. a cores); Guilherme Lopes com “Super Patanisca – (8 págs. a cores); Patrícia Braga com um trabalho sem título (12 págs. a cores); Kiko Pantuchina+Beta Gon com “O Rock chegou a Roças” (6 págs. a cores); e Raquel+Hugo Ramos com “Tomo no Boken” (10 págs. a P&B). Desenho da capa: Carlos Dias Tavares; Paginação: Guilherme Lopes; Arranjo gráfico da capa: Helena Carneiro. Edição: Velha-a-Branca - estaleiro cultural, Braga, Julho de 2005.

02/09/2007

Arte Total

Dança contemporânea pela Arte Total a assinalar o encerramento da exposição on the other hand / sombra_clara em 16/Jun/2007.
fotos: João Acciaioli Catalão (c)

01/09/2007

Hector Babenco - Pixote - A Lei do Mais Fraco [1981]

"Pixote - a lei do mais fraco" é a terceira obra do realizador Hector Babenco, nascido na Argentina em 1946, mas radicado no Brasil desde os anos setenta. Babenco notabilizou-se depois com filmes como "O Beijo da Mulher Aranha", que valeu um Óscar para William Hurt, "Ironweed" (com Jack Nicholson e Meryl Streep) e "Carandirú".
"Pixote" é baseado no livro “Infância dos Mortos” do escritor José Louzeiro, relatando a história de Pixote (Fernando Ramos da Silva), um rapaz com dez anos, filho de pai incógnito. O filme começa num tom documental, com o realizador a contextualizar a situação económica, judicial e social do Brasil, com uma favela de S. Paulo como pano de fundo. Influenciado pelo neo-realismo italiano (De Sica, em primeiro lugar), e por filmes como “Zero em Comportamento” de Jean Vigo, “Os Olvidados” de Luís Buñuel e “Os 400 Golpes” de François Truffaut, o realizador Hector Babenco filma praticamente tudo com actores não profissionais em cenários e situações de grande realismo.
Após a introdução inicial, a história passa para dentro de um reformatório juvenil onde Pixote é internado, para aí completar a sua "educação" no convívio com todo o tipo de delinquentes. Pixote junta-se a outros menores como Fumaça, Lilica, Dito e Chico, mais por falta de opção do que por convicção. A violência, estupro, corrupção e demonstrações de força, bem como as pequenas alegrias de um jogo de futebol, pontuam o quotidiano dos jovens reclusos.
As mortes de Fumaça e do namorado do travesti Lilica, obrigam o grupo a escapar do reformatório e a partirem para o Rio de Janeiro, iniciando uma nova etapa em jeito de road movie. A narrativa passa do confinamento
total do reformatório para os grandes espaços, para as avenidas consumistas e para as praias solarengas. O grupo numa vertigem hedonista e amoral, vai aprimorando os seus esquemas e crimes, culminado no assassinato de Débora, vendedora de droga, por Pixote que logo de seguida vai jogar flippers.
Hector Babenco desafia-nos a olhar Pixote e seus companheiros, não como crianças sem rumo, mas como protagonistas de um rumo-outro, construído na brutalidade e no antagonismo diante do mundo. Amores, cumplicidades, raiva, dúvidas - os jovens criam nas ruas uma nova "família", partilhando banhos nos chafarizes públicos e os cobertores à noite.
A interpretação de Fernando Ramos da Silva é brilhante, conseguindo representar um Pixote simultaneamente inocente e assassino. Fernando, contudo, não conseguiu manter-se a trabalhar como actor e voltou à criminalidade. Acabou morto pela polícia aos 19 anos, deixando esposa e dois filhos. Em 1988, Nick Cave a residir no Brasil, dedica o disco “Tender Prey” a Fernando Ramos da Silva/Pixote.
Brasil, 1981, Cor, 123min - Realizador: Hector Babenco
Produção: Paulo Francini - Argumento: Hector Babenco/Jorge Duran - Fotografia: Rodolfo Sánchez - Montagem: Luiz Elias – Banda Sonora: John Neschling
Actores: Fernando Ramos da Silva, Marília Pêra, Jardel Filho, Jorge Julião, Rubem de Falco, Elke Maravilha, Tony Tornado, Gilberto Moura, Edilson Lino…