28/02/2021

Plataforma

“Há scooters que descem Naklua Road e levantam uma nuvem de pó. Já é meio-dia. Vindas dos bairros periféricos, as prostitutas vêm iniciar o seu trabalho nos bares do centro da cidade. Não penso sair de casa hoje. Mas talvez o faça ao final da tarde, para engolir uma sopa comprada numa das lojas junto ao cruzamento.
Quando renunciamos à vida, as últimas pessoas com quem contactamos são os comerciantes. Pela minha parte, limito-me a dizer algumas palavras em inglês. Não falo tailandês, o que cria em meu redor uma barreira triste e asfixiante. É muito provável que não tenha chegado a compreender a Ásia, o que, de resto, não tem qualquer importância. Podemos habitar um mundo sem o compreendermos, basta-nos ser capazes de obter alimentos, carícias e amor. Em Pattaya, a alimentação e as carícias são baratas, de acordo com os critérios ocidentais e mesmo com os asiáticos. Sobre o amor, sinto grande dificuldade em falar.”
Michel Houellebecq – “Plataforma” - 2001