“Lembrei-me de o arquitecto não
ter parecido à vontade durante a minha visita, demorou-se o tempo estritamente
necessário para me explicar o funcionamento das máquinas, dez minutos no máximo,
e repetiu-me diversas vezes que o melhor era vender a casa, se tudo não fosse
tão complicado, as formalidades notariais, etc., e sobretudo se tivesse a sorte
de encontrar um comprador. De facto, deve ter passado um mau bocado nesta casa,
um passado cujos contornos me eram difíceis de definir, entre o Marquês de Sade
e o twist, um passado de que tinha de se desfazer, sem que com isso abrisse a
possibilidade de um futuro, mas o conteúdo desta ala, em todo o caso, não
evocava nada que pudesse ter encontrado na casa de Clécy, era outra patologia,
outra história, e quando voltei para a cama estava quase sereno, tanto quanto,
no meio das nossas tragédias, nos tranquiliza a existência de outras a que
fomos poupados."
Michel Houellebecq – “Serotonina” - 2019
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