21/12/2020

Censura Já!!

“Para que diabos ter uma estante pejada de livros, se a Google tem todos os conteúdos de todos os livros e dispersou-os pelo mundo através da sua magnânima beneficência? Os livros são pesados, sujos, poeirentos e desintegram-se nos nossos pulmões. Para quê possuir enciclopédias quando há todo um wiki-universo? E por aí fora. Para quê haver lojas de discos, livrarias, lojas de vídeo, áreas comerciais quiosques, cinemas, teatros, óperas, bibliotecas, escolas, parques, edifícios governamentais, salas de reunião, etc., etc.? Os espaços públicos, os mercados e interagir com outras pessoas é algo primitivo, pasto de germes e coisa perigosa. Bem vistas as coisas, tudo pode ser feito online, seus primatas! A única que agora uma pessoa precisa é de uma Whole Foods, de uns bares da moda e de um aeroporto para voar até ao Myanmar, antes que fique manco.

Os Senhores dos computadores querem controlar tudo e peça fundamental para controlar todas as coisas é controlar a perceção dos outros. A perceção de como as coisas são, a maneira como as coisas funcionam e o que aconteceu na História são importantes, assim, eles podem moldar a sua versão dos eventos e controlar a narrativa – controlar as mentes das massas para as transformar em melhores e mais complacentes consumidores/servas.

As “tralhas” que os “acumuladores” retêm, todavia, podem contar a história que refuta ou desafia, de certo modo, a versão dos eventos contada pelos suseranos dos computadores. A coleção de discos, de revistas ou de jornais pode revelar algumas pistas em relação a um  movimento social ou tendência, moda ou sensibilidade que desafiam o estrangulamento imbecil das consciências, perpetrado por esses “senhores”. Um arroto de resistência. Uma pista para uma saída. Um sinal de que a vida não depende verdadeiramente do acesso de alta velocidade da internet. A fisicalidade do objeto infere que, outrora, as coisas tiveram significado, que cada coisa não é só fazer um ”post” equívoco e sem significado no Tumblr.”
Ian F. Svenonius – “Censura Já!!” - 2015

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