“Faz a pergunta a ti mesmo. Que procuramos nós acima de tudo, neste país? As pessoas querem ser felizes, não achas? Não lhes ouviste dizer isso toda a vida? Quero ser feliz, declara cada um. E, bem, são eles felizes? Não velamos nós para que estejam sempre em movimento, sempre distraídos? Não vivemos senão para isso, não é a tua opinião? Para o prazer, para a excitação? E deves concordar que a nossa civilização fornece um e outra à saciedade.
- Sim.
- Os negros não gostam de Little Black Sambo. Queimemo-lo. A Cabana do Pai Tomás não agrada aos brancos. Queimemo-la. Um tipo escreveu um livro sobre o tabaco e o cancro do pulmão? Os fumadores de cigarros ficaram consternados. Queimemos o livro. A serenidade, Montag, a paz, Montag. Liquidemos os problemas, ou melhor ainda, lancemo-los no incinerador; os enterros são tristes e pagãos? Eliminemo-los igualmente. Cinco minutos após a morte, todo o individuo vai a caminho do Grande Crematório, por meio dos Incineradores servidos por helicóptero em todo o país. Dez minutos após a morte, o homem nada mais é do que um grão de poeira negra. Não vaticinemos acerca dos indivíduos a golpes de inconsoláveis memórias. Esqueçamo-los. Queimemo-los, queimemos tudo. O fogo é brilhante, o fogo é limpo.”
Ray Bradbury – “Fahrenheit 451” – 1953
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