“A humanidade não me interessava,
até me desagradava muito, não considerava de todo os humanos meus irmãos, e
ainda menos se tivesse em conta uma fração mais restrita da humanidade, por
exemplo os meus compatriotas ou os meus antigos colegas. No entanto, num certo
sentido desagradável, tinha de reconhecer que esses seres humanos eram meus
semelhantes, mas era justamente essa semelhança que me fazia fugir deles; era
necessário uma mulher, era a solução clássica, experimentada, uma mulher é sem
dúvida humana mas representa um tipo ligeiramente diferente da humanidade, dá à
vida um certo perfume de exotismo. Huysmans teria posto a questão quase nos
mesmos termos, a situação não evoluíra desde essa altura senão de maneira
informal e negativa, por lenta desagregação, por nivelamento das diferenças –
mas mesmo isso tinha sem dúvida sido largamente exagerado.”
Michel Houellebecq – “Submissão”
- 2015
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