"O burburinho das vozes e a claridade dos candeeiros de
acetilene acolheram-no, qual refúgio benfazejo. A esta hora da noite, o Café
dos Espelhos ficava cheio de uma malta turbulenta que enchia as mesas todas e
deambulava em lenta procissão pela rua de terra batida. Da incessante telefonia
saltava, vagas duma música tempestuosa, a qual, amplificada pelos altifalantes,
afogava numa mesma confusão a magnificência das conversas, dos gritos e dos
risos. Neste tumulto grandioso, dedicavam-se a uma espécie de actividade
divertida mendigos andrajosos, cata-beatas, vendedores ambulantes, quais
saltimbancos em feira ruidosa. E todas as noites assim era, ali surgindo aquele
ambiente de arraial. O Café dos Espelhos parecia ser um lugar criado pela
sabedoria dos homens e situado nos confins de um mundo consagrado à tristeza."
Albert Cossery -"Mendigos e Altivos" - 1955
Albert Cossery -"Mendigos e Altivos" - 1955
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