"São os irreabilitados, uma
geração perdida, «sempre a suspirar pelo tempo que acabou de nos fugir»: os que
nasceram demasiado tarde para o punk, mas
cujas expectativas foram elevadas pelo seu incendiário crepúsculo; os que assistiram
à Greve dos Mineiros com olhos adolescentes e apoiantes, mas que eram
demasiado novos para participarem efectivamente na militância; os que sentiram
a euforia desejosa de futuro da rave como
um direito natural, sem sonharem que
ela poderia esfumar-se como sinapses fritas; os que, em suma, simplesmente não
achavam suportável a «realidade» imposta pelas forças conquistadoras do
neoliberalismo. A regra é adaptar-se ou morrer, estando muitas formas
diferentes de morte à disposição de quem não conseguir apanhar o alvoroço
comercial ou puxar do entusiasmo indispensável para as indústrias criativas. Seis
milhões de maneiras de morrer, é só escolher uma: drogas, depressão,
indigência, tantas formas de colapso catatónico. Noutros tempos, os
«pervertidos, psicóticos e os que se iam mentalmente abaixo» inspiravam
poetas-militantes, situacionistas, sonhadores da rave. Agora, são encarcerados
em hospitais, ou ficam a definhar na sarjeta."
Mark Fisher - "Fantasmas da Minha Vida - Escritos sobre Depressão, Hantologia e Futuros Perdidos" - 2014
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