15/01/2022

A Arte e a Morte

“Também havia uma arcada de sobrancelhas como céu todo a passar por baixo, verdadeiro céu de violação, rapto, lava, tempestade, raiva, quer dizer céu teologal ao máximo. Um céu em arco alto como a trombeta dos abismos, como cicuta bebida em sonhos, um céu contido em todos os frascos da morte, o céu de Heloísa acima de Abelardo, um céu de apaixonado suicídio, um céu que tinha as raivas todas do amor.

Era um céu de pecado protestante, pecado que o confessionário retinha, pecado como os que pesam na consciência dos padres, verdadeiro pecado teologal.

E agradava-me.

Ela servia numa taberna de Hoffmann, mas criadinha devassa e ramelosa, devassa e mal lavada criadinha. Passava por água os pratos, fazia despejos e camas, varria quartos, sacudia baldaquinos e despia-se à frente da janela como todas as criadas de todos os contos de Hoffmann.”

Antonin Artaud – “A Arte e a Morte” - 1985

06/01/2022

L'amour va bien...merci

STRA - Avenida de Camilo (Porto) - 2020

02/01/2022

O Velho e o Mar

   “Nessa tarde, havia no Terraço um grupo de turistas e, olhando para a água, entre latas de cerveja vazias e barracudas mortas, uma mulher viu a enorme espinha branca com a portentosa cauda à ponta, que arfava e balouçava na maré, enquanto o vento leste levantava um mar picado e cadenciado, fora da entrada do porto. 
   - Que é aquilo? – perguntou ela a um criado, e apontava para a longa espinha dorsal do grande peixe, que era apenas lixo à espera de que o levasse a maré. 
   - Tiburon – respondeu o criado – Tubarão. – Queria explicar-lhe o que acontecera.” 
Ernest Hemingway – “O Velho e o Mar”  – 1952