26/07/2007

Ricardo Fiúza

“figura de convite masculina e feminina”, acrílico s/ tela, 2007

Depois de ter participado na exposição colectiva “Rewind Space Forward”, organizada em 1997 no Museu dos Biscainhos, foi com alegria e responsabilidade acrescida que aceitei, dez anos depois, o convite para participar neste novo projecto. Com base na importância do testemunho do museu, no contexto do barroco nacional, em articulação com a lógica expositiva da colecção e do seu acervo, pretendeu-se com esta iniciativa, convocar um outro olhar. De uma forma a que se gerassem e multiplicassem novos canais de diálogo entre as obras do passado e do presente, produzindo-se novas vias para os discursos expositivos

Tratando-se de um museu que privilegia as facetas e aspectos da vida privada e doméstica, de uma casa senhorial, procurei intervir numa área da casa que ao mesmo tempo evidenciasse bem estas características e também tivesse uma grande riqueza simbólica. Escolhi a zona do átrio e escadaria do edifício, para fazer uma reinterpretação e reinvenção pessoal das “Figuras de Convite”. Estas figuras únicas das casas senhoriais portuguesas, representavam pessoas (lacaios, damas, guerreiros), que trajavam a rigor e estavam colocadas nas entradas dos palácios, para dar as boas vindas e receber os visitantes. Eram um dos principais símbolos do protocolo aristocrático, do poder e riqueza da época barroca.

As duas obras que fiz para este projecto, têm como ponto de partida o imaginário da série de desenhos “Quem Pontua um Ponto…”, realizados por mim nos anos 90. São criaturas representadas em tamanho natural, em pose de vénia e reverência, retiradas de um possível conto fantástico. Estes seres alados com sentimentos humanos, têm atributos especiais, que remetem para a omnipresença e para um tom marcial (alabarda, escudo, capacete). Porque têm a capacidade de estar em todos os locais e em qualquer momento, e a função de serem intermediários do espaço e do tempo, entre o exterior e o interior do palácio, entre o passado e o presente. São os mensageiros e guardiães, executores das leis e protectores, que tomam sempre a iniciativa, quer se queira quer não, de nos anunciar, de velarem pela casa, pelos donos e pelos visitantes desta exposição.
Ricardo Fiúza, Maio de 2007

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