Devo esclarecer desde já o seguinte: sou adepto do Sp. Braga e avalio, globalmente, de forma muito positiva o trabalho da actual Direcção. Depois de João G. Oliveira ter iniciado a inversão de um ciclo desastroso no plano desportivo e financeiro, António Salvador conseguiu projectar o clube para um patamar inimaginável há uns anos atrás.
Desde que me lembro, a Câmara Municipal de Braga (CMB) pela mão de Mesquita Machado, teve sempre um papel preponderante na vida do clube, ora através da atribuição de diversos subsídios e terrenos, ora através da interferência directa na composição dos diversos elencos directivos. O presidente da Câmara disse por este dias que “não vou morrer sem o Sp. Braga ser campeão nacional”, confirmando que em relação ao clube, segue mais o coração do que a cabeça.
Numa simples análise custo/benefício, constata-se que a construção do novo Estádio apresenta imensos custos e apenas dois benefícios: 1) os praticantes e os espectadores de futebol profissional beneficiam de uma melhoria da qualidade do recinto; 2) teoricamente, a qualidade arquitectónica/monumental do Estádio, pode favorecer a oferta turística da cidade, embora seja muito difícil quantificar o acréscimo de turistas devido exclusivamente à existência do Estádio. De qualquer forma, não se prevê que cheguem todos os dias voos charter cheios de nórdicos para verem uma obra megalómana sem nada dentro.
Os custos são muitos, pelo que refiro apenas os que considero mais relevantes:
1) desde logo, o custo de oportunidade: não é serviço público construir estádios para o futebol profissional, em detrimento de outros investimentos socialmente mais úteis e versáteis para os bracarenses;
2) a construção do Estádio não tem qualquer efeito de alavancagem económica para a cidade; nem é um instrumento da política de desenvolvimento desportivo da cidade, pois só serve o futebol profissional;
3) não tendo sido encontrada uma solução satisfatória para o Estádio 1.º de Maio, o novo Estádio implica a duplicação da factura de gestão e manutenção a pagar pelos bracarenses;
4) o custo total do novo Estádio ascendeu a mais de 130 milhões de euros. O Estado/Adm. Central só comparticipou globalmente a obra com cerca de 10 milhões de euros, sendo necessário recorrer a empréstimos bancários na ordem dos 77 milhões de euros (os juros a pagar ascendem a mais de 35 milhões de euros), a amortizar em 20 anos, com 2 anos de período de carência.
O Estádio Municipal de Braga foi o projecto que teve o maior custo efectivo do Euro 2004. Esta situação só foi possível porque “os custos com a construção do novo estádio de Braga não constituíram nem uma preocupação, nem uma prioridade da CMB, que transferiu essa decisão para o projectista” *. Pois bem, o Grande Artista do Estádio interpôs uma acção em Tribunal contra a CMB reclamando o pagamento de honorários relativos a trabalhos a mais, pelo que a factura total do Estádio ainda pode agravar-se.
A decisão de construir o Estádio Municipal de Braga, foi um erro de dimensões megalíticas, cujas consequências ainda não estão completamente apuradas, mas que, de certeza, penalizarão fortemente os bracarenses nas próximas décadas.
Com o Estádio construído, urge procurar formas para o rentabilizar. Desde a inauguração há 3 anos e meio, só me recordo de meia dúzia de actividades extra-futebol realizadas na área do Estádio e três são concertos do Tony Carreira. Daqui pode concluir-se que nem a Câmara tem capacidade para a gestão do espaço, nem daí vai resultar qualquer benefício económico/financeiro para o município.
Para a utilização desportiva do novo estádio, foi estabelecido um contrato-programa entre a CMB e o Sp. Braga, onde basicamente, o clube fica com todas as componentes que geram receita, pagando apenas uma renda anual de cerca de 6.000 euros. À CMB cabem as obrigações: manutenção do estádio e espaços exteriores, tratar o relvado, limpeza das bancadas, dos espaços de circulação, dos espaços exteriores, assegurar a gestão técnica do estádio, segurança, etc.
Neste contexto, não me repugna que se ceda o nome do Estádio para efeitos publicitários, com as devidas contrapartidas. A AXA Seguros parece-me uma empresa sólida e credível, sendo, à partida, um bom parceiro para este negócio. Na medida em que a publicidade se estende também às camisolas e outros suportes de imagem do clube, o Sp. Braga será o melhor interlocutor para negociar a sponsorização global.
Sendo o Estádio propriedade municipal, o seu nome também o é, pelo que a cedência dos direitos do nome tem que representar alguma contrapartida para o município. Caso contrário, estamos perante um verdadeiro pacto leonino onde uma das partes tem todos os direitos e a outra todas as obrigações.
Mesquita Machado sonha ver o Sp. Braga campeão. Eu também, mas não a qualquer preço.
* - Relatório da Auditoria do Tribunal de Contas, nº 37/05, 2.ª Fase.
(também publicado na edição de 17/07/2007 do jornal Diário do Minho)