25/08/2014

Os erros dos médicos

“Alguns dos erros mais frequentes devem-se ao facto dos médicos simplesmente terem deixado de observar os doentes com atenção. Acrescentem a essa falta de atenção uma tendência para apressar o tempo das consultas – os incentivos económicos e as pressões para ver mais pacientes em menos tempo são enormes – e os erros cognitivos tornam-se habituais. Quando colocados perante uma grande pressão em termos de tempo, os médicos irão forçosamente confiar cada vez mais em atalhos deste tipo para fazer as suas avaliações. O reconhecimento de um padrão com base numa avaliação instantânea do doente vai tornar-se a norma.
Na realidade, a capacidade para realizar diagnósticos instantâneos já é uma competência admirada entre os médicos.”
“Nos seus contactos com os pacientes, independentemente dos incentivos financeiros para serem mais eficientes e produtivos, os médicos devem tentar ser sistemáticos e meticulosos, quando tomam nota da história do paciente e realizam os exames clínicos. Os atalhos são perigosos. Pensar exige tempo.”
Jerome Groopman – “How Doctors Think” – 2007 [tradução livre] – Foto: Pedro Guimarães

24/08/2014

Mulheres e Homens

"E durante muito tempo fiquei muito quieto e senti-me como se estivesse completamente fora do mundo, sem referências de início ou fim, apenas lançado no espaço como um rapaz num foguete. Mas passado um bocado devo ter sustido a respiração, porque o coração me começou a bater com mais força e tive aquela sensação, a assustadora sensação que se tem quando se está a sufocar e a vida se está prestes a acabar – depressa, depressa, segundo a segundo – e é preciso fazer alguma coisa para nos salvarmos, mas não conseguimos. Só então nos lembramos que nós é que provocamos esse efeito, e nós é que temos de o fazer parar. Então parou e, depois, consegui respirar de novo. Olhei para a noite através da janela, onde as nuvens tinham aparecido e se tinham dispersado, a neve parara e o céu sobre o vasto solo branco era macio como o mais macio dos veludos. E senti-me calmo. Talvez pela primeira vez na minha vida, senti-me calmo. Tanto que, por um momento, também eu fechei os olhos e dormi."
Richard Ford – “Mulheres e Homens” - 1997