14/07/2007

O Sp. Braga, a Câmara, o Estádio e o nome dele

Devo esclarecer desde já o seguinte: sou adepto do Sp. Braga e avalio, globalmente, de forma muito positiva o trabalho da actual Direcção. Depois de João G. Oliveira ter iniciado a inversão de um ciclo desastroso no plano desportivo e financeiro, António Salvador conseguiu projectar o clube para um patamar inimaginável há uns anos atrás.

Desde que me lembro, a Câmara Municipal de Braga (CMB) pela mão de Mesquita Machado, teve sempre um papel preponderante na vida do clube, ora através da atribuição de diversos subsídios e terrenos, ora através da interferência directa na composição dos diversos elencos directivos. O presidente da Câmara disse por este dias que “não vou morrer sem o Sp. Braga ser campeão nacional”, confirmando que em relação ao clube, segue mais o coração do que a cabeça.

Numa simples análise custo/benefício, constata-se que a construção do novo Estádio apresenta imensos custos e apenas dois benefícios: 1) os praticantes e os espectadores de futebol profissional beneficiam de uma melhoria da qualidade do recinto; 2) teoricamente, a qualidade arquitectónica/monumental do Estádio, pode favorecer a oferta turística da cidade, embora seja muito difícil quantificar o acréscimo de turistas devido exclusivamente à existência do Estádio. De qualquer forma, não se prevê que cheguem todos os dias voos charter cheios de nórdicos para verem uma obra megalómana sem nada dentro.
Os custos são muitos, pelo que refiro apenas os que considero mais relevantes:
1) desde logo, o custo de oportunidade: não é serviço público construir estádios para o futebol profissional, em detrimento de outros investimentos socialmente mais úteis e versáteis para os bracarenses;
2) a construção do Estádio não tem qualquer efeito de alavancagem económica para a cidade; nem é um instrumento da política de desenvolvimento desportivo da cidade, pois só serve o futebol profissional;
3) não tendo sido encontrada uma solução satisfatória para o Estádio 1.º de Maio, o novo Estádio implica a duplicação da factura de gestão e manutenção a pagar pelos bracarenses;
4) o custo total do novo Estádio ascendeu a mais de 130 milhões de euros. O Estado/Adm. Central só comparticipou globalmente a obra com cerca de 10 milhões de euros, sendo necessário recorrer a empréstimos bancários na ordem dos 77 milhões de euros (os juros a pagar ascendem a mais de 35 milhões de euros), a amortizar em 20 anos, com 2 anos de período de carência.

O Estádio Municipal de Braga foi o projecto que teve o maior custo efectivo do Euro 2004. Esta situação só foi possível porque “os custos com a construção do novo estádio de Braga não constituíram nem uma preocupação, nem uma prioridade da CMB, que transferiu essa decisão para o projectista” *. Pois bem, o Grande Artista do Estádio interpôs uma acção em Tribunal contra a CMB reclamando o pagamento de honorários relativos a trabalhos a mais, pelo que a factura total do Estádio ainda pode agravar-se.
A decisão de construir o Estádio Municipal de Braga, foi um erro de dimensões megalíticas, cujas consequências ainda não estão completamente apuradas, mas que, de certeza, penalizarão fortemente os bracarenses nas próximas décadas.

Com o Estádio construído, urge procurar formas para o rentabilizar. Desde a inauguração há 3 anos e meio, só me recordo de meia dúzia de actividades extra-futebol realizadas na área do Estádio e três são concertos do Tony Carreira. Daqui pode concluir-se que nem a Câmara tem capacidade para a gestão do espaço, nem daí vai resultar qualquer benefício económico/financeiro para o município.
Para a utilização desportiva do novo estádio, foi estabelecido um contrato-programa entre a CMB e o Sp. Braga, onde basicamente, o clube fica com todas as componentes que geram receita, pagando apenas uma renda anual de cerca de 6.000 euros. À CMB cabem as obrigações: manutenção do estádio e espaços exteriores, tratar o relvado, limpeza das bancadas, dos espaços de circulação, dos espaços exteriores, assegurar a gestão técnica do estádio, segurança, etc.
Neste contexto, não me repugna que se ceda o nome do Estádio para efeitos publicitários, com as devidas contrapartidas. A AXA Seguros parece-me uma empresa sólida e credível, sendo, à partida, um bom parceiro para este negócio. Na medida em que a publicidade se estende também às camisolas e outros suportes de imagem do clube, o Sp. Braga será o melhor interlocutor para negociar a sponsorização global.
Sendo o Estádio propriedade municipal, o seu nome também o é, pelo que a cedência dos direitos do nome tem que representar alguma contrapartida para o município. Caso contrário, estamos perante um verdadeiro pacto leonino onde uma das partes tem todos os direitos e a outra todas as obrigações.
Mesquita Machado sonha ver o Sp. Braga campeão. Eu também, mas não a qualquer preço.
* - Relatório da Auditoria do Tribunal de Contas, nº 37/05, 2.ª Fase.
(também publicado na edição de 17/07/2007 do jornal Diário do Minho)

5 comentários:

Arsenal de Braga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Morgado disse...

Caríssimo,

Permita-me discordar.

1) O "naming right" do Estádio só tem valor comercial porque o Sporting de Braga desenvolve a sua actividade no estádio. Caso o Sporting de Braga não jogasse lá, a Câmara nunca conseguiria um negócio destes. Além disso, o nome do Estádio mantém - apenas se altera nos eventos organizados pelo SC Braga.

2) Penso que a manutenção está a cargo do Sporting de Braga e a Câmara apenas paga as grandes intervenções.

3) O sistema de Braga é bem mais claro, justo e sério que o de Guimarães, onde o estádio privado foi renovado com dinheiros públicos. Curioso e estranho o silêncio de toda a gente neste negócio (no mínimo).

erradiador disse...

Caro Pedro Morgado,

antes de mais, respeito e admiração pelo Av.Central.

Em relação à sua discordância apresentada em 3 pontos, parece-me que só discordamos no 1). Senão vejamos:
Ponto 1 - Na sua opinião, todo o montante do negócio do "naming right" deve reverter para o SCB. Na minha opinião, uma parte desse montante devia reverter para o município, que é o dono do Estádio e do respectivo nome. Abstenho-me de repetir os argumentos já enunciados.
Ponto 2 - Em relação à manutenção, julgo que está equivocado:

DEVERES E OBRIGAÇÕES DA SCB:
"1) Assegurar o normal e eficaz funcionamento de toda a logística de apoio organizativa;
2) Suportar os encargos decorrentes da gestão corrente das infra estruturas, como água, electricidade, gás e outros;
3) Solicitar autorização ao Município para a colocação de publicidade e para a realização de qualquer tipo de obra e por último
4) Apresentar um relatório anual detalhado sobre a gestão e utilização do estádio.
Acresce a estes, o dever do SCB pagar ao Município de Braga uma renda anual de 6 mil euros, actualizável à taxa de inflação."

DEVERES E OBRIGAÇÕES DA CMB
"deveres de assegurar a manutenção e conservação do estádio e espaços exteriores, assegurar o tratamento do relvado, da limpeza das bancadas, dos espaços de circulação, dos espaços exteriores, assegurar a gestão técnica do novo estádio."
As citações são retiradas do Relatório de Auditoria do Tribunal de Contas EURO/2004 (2.ª fase) – N.º 37/2005 de Novembro 2005.

Como vê, ao SCB competem apenas e só os encargos decorrentes da organização dos jogos de futebol. Na medida em que o relvado é encargo da CMB, a factura da água paga pelo SCB respeita apenas aos chuveiros, autoclismos e máquina do café.

Ponto 3) não senti qualquer necessidade ou obrigação de falar do Estádio D. Afonso Henriques. Julgo que se fala menos nessa situação pelo seguinte:

"Em termos de custo do projecto global (estádio, estacionamentos, acessibilidades e outros investimentos/infra-estruturas), observa-se que os projectos relativos aos Estádios Municipais de Braga e Leiria apresentam os custos efectivos mais elevados de cerca de 140 e 83,2 milhões de euros, respectivamente […] Em contraponto o Estádio D. Afonso Henriques, de Guimarães apresenta o custo de projecto global mais baixo, ao situar-se na ordem dos 34,2 milhões de euros, o que representa apenas cerca de 25% do custo incorrido com o projecto global relativo ao Estádio Municipal de Braga […] " Retirado do mesmo Relatório.

Mas já que trouxe Guimarães à baila, devo dizer que sempre considerei que a rivalidade entre as 2 cidades, fomentada em grande medida pelo futebol, é completamente desprovida de sentido e sem qualquer vantagem quer para Braga, quer para Guimarães, constituindo um dos grandes entraves ao desenvolvimento da nossa região.

Pedro Morgado disse...

Obrigado por deixar aqui alguns dados que não tinha presentes.

a rivalidade entre as 2 cidades, fomentada em grande medida pelo futebol, é completamente desprovida de sentido e sem qualquer vantagem quer para Braga, quer para Guimarães, constituindo um dos grandes entraves ao desenvolvimento da nossa região.

Estamos de acordo. Tenho-o dito e repetido.

LDS disse...

O que eu ouvi dizer foi que o Estádio do Vitória foi da Câmara para pedir os subsídios da Comunidade Europeia e depois passo novamente para mãos privadas após estes serem aplicados na sua renovaçao.
Mas foi só o que ouvi dizer...