30/03/2009

Coro Alto

"O Coro alto servia para a recitação das "Horas" tipicamente monásticas, como eram as Matinas, as Laudes e as Horas Menores. Os monges, usando obrigatoriamente a cogula, entravam de joelhos e, no cadeiral, permaneciam longas horas em canto litúrgico, seguindo os grandes livros iluminados, colocados na estante coral, e que eram as bíblias, antifonários, graduais e saltérios. De pé, só se sentando para a recitação dos salmos e durante as leituras, encontravam algum conforto com o apoio nas "misericórdias" e grande estímulo no exemplo das vidas de S. Bento e Santa Escolástica, representadas nos oito quadros grandes das paredes do coro.
O Coro é, assim, essencialmente ocupado pelo cadeiral. Construído entre 1666-1668 e atribuído a António de Andrade, é de planta em U e dispõe-se em duas filas, com a de trás em plano mais elevado. As cadeiras, com decoração entalhada, são de assento levadiço e têm, no lado inferior, pequenas mísulas, as misericórdias, com a forma de máscaras fantasiosas de rostos humanos, sátiros e animais.
Os espaldares, que constituem a parte mais artística do cadeiral, são estofados, dourados e policromados e a sua imaginária fala-nos de figuras e factos beneditinos. Separados uns dos outros por pilastras com esculturas geminadas ostentando toucados de folhagem são um testemunho da magnífica talha proto-barroca que se produziu no Mosteiro de Tibães e que rivaliza condignamente com os gradeamentos oitocentistas de pau preto e bronzes dourados, com o oratório do Cristo Crucificado de Frei José de Santo António Vilaça e com o órgão do mestre organeiro Francisco António Solha, com caixa "riscada" por Frei José de Santo António Vilaça."

20/03/2009

Braga – Capital do Tédio

Regresso temporariamente a Braga e reparo, cada vez com maior nitidez, que o tédio corrói as paredes e as pessoas da cidade. Nada de relevante acontece – invariavelmente, Braga só é notícia devido a assuntos de sacristia: sejam o báculo Peculiar, as telas que ornamentam o altar do Sameiro ou a apreensão em plena Feira do Livro de uns quantos exemplares de uma edição que reproduz na capa a tela “A Origem do Mundo” de Courbet.
O principal projecto a inaugurar em ano de eleições também nada traz de novo, demonstrando um poder instituído de ideias gastas, ou mesmo sem ideias. O centro da cidade necessita de uma intervenção urgente que inverta a progressiva diminuição da actividade comercial e a evidente desertificação diurna e principalmente nocturna, e esses objectivos não se atingem alargando os espaços-eira.
Qual o interesse em aumentar a área exclusivamente pedonal, se há cada vez menos pessoas a usufruírem desse espaço público? Argumenta-se que o prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade vai valorizar a envolvente do Teatro Circo, mas não se explicitam quais os benefícios que daí possam advir para os bracarenses.
O próprio Teatro Circo, que foi o grande estandarte da campanha eleitoral anterior, também não constituiu a panaceia contra o marasmo cultural. Braga precisa de uma casa de cultura pluridisciplinar, dinâmica e aberta à cidade, mas o Teatro Circo tem sido apenas uma mera sala de espectáculos.
Anuncia-se também a realização da 1.ª Bienal de Artes Plásticas em Setembro deste ano. Lamenta-se que, mais uma vez, a cultura e a arte sejam tratadas de forma tão provinciana e oportunista. Para que serve uma Bienal que não tem qualquer estratégia/programa, que não tem prémios, ou sequer a mais pequena ambição? Servirá talvez apenas como propaganda, passando aos mais incautos a ilusão que o poder autárquico é sensível a estas matérias.
Braga precisa de ideias, projectos e realizações que mobilizem verdadeiramente os agentes económicos, culturais e sociais, para se perspectivar uma cidade que seja boa não apenas para dormir, mas também para trabalhar, investir, visitar, em suma, para se viver.