06/09/2009

Crónica de um Fracasso Anunciado

Novo capítulo no longo historial de fracassos da acção cultural da Câmara de Braga. No passado mês de Março, o Pelouro da Cultura anunciou a realização da 1.ª Bienal de Artes Plásticas de Braga. À Bienal podiam candidatar-se os artistas naturais ou residentes em Braga com trabalhos de pintura, fotografia, escultura, instalação, multimédia, performance, etc. As candidaturas seriam apreciadas por uma Comissão de Especialistas nomeada pela Câmara. Com esta iniciativa a autarquia propunha-se “contribuir para o desenvolvimento cultural do concelho” e promover a “divulgação dos artistas plásticos bracarenses”.
A Bienal teria a duração de um mês e meio (de 18 de Setembro a 31 de Outubro), e as exposições decorreriam em 4 locais distintos: Casa dos Crivos, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Mosteiro de Tibães e Museu D. Diogo de Sousa.
Era do mais elementar bom senso prever que esta iniciativa estava condenada ao insucesso logo à nascença: - quais os artistas que quereriam participar numa Bienal que não apresentava qualquer estratégia, programa ou ambição e que se restringia apenas aos artistas bracarenses? – Que interesse havia em participar numa Bienal que não tinha qualquer prémio? - E cuja organização, ainda por cima, não se responsabilizava por qualquer dano ou extravio das obras, tendo que ser os artistas a pagar o seguro?
Por outro lado, os artistas bracarenses sendo conhecedores do desprezo crónico que a autarquia sempre dedicou à arte e à cultura, estranhariam o oportunismo da realização de uma Bienal em época de eleições. Obviamente, que os artistas não quereriam ser ingénuos instrumentos de um poder municipal que apenas pretendia dar a aparência de ser sensível às artes plásticas.
Pelos pressupostos enunciados, aguardávamos com natural expectativa a concretização da 1.ª Bienal de Artes Plásticas de Braga a realizar-se este mês.
Foi sem surpresa, que uma pomposa Bienal rapidamente se transformou numa modesta Mostra. O evento que deveria decorrer em 4 locais distintos da cidade vai restringir-se apenas ao Museu D. Diogo de Sousa. O que se previa que duraria um mês e meio vai agora ser despachado apressadamente em curtos 15 dias (de 4 a 20 de Setembro).
Tudo isto seria apenas deprimente, se não fosse tão inquietante: - que imagem passa da nossa cidade para o exterior, quando qualquer cidade ou vila de Portugal (Vila Nova Cerveira, Vila Verde, Porto Santo, Amadora, Caminha, Chaves, etc., etc.) consegue realizar uma Bienal de Artes e aquela que se diz a terceira cidade do país não é capaz disso? – Se não são capazes sequer de organizar uma mera Bienal de Artes Plásticas, como queriam realizar uma Capital Europeia da Cultura?
Qual a imagem dos artistas bracarenses que vai perpassar para os turistas e demais visitantes pelo que é apresentado no Museu D. Diogo de Sousa?
A responsável do Pelouro da Cultura de Braga anunciou com a sua habitual fleuma, que “mercê de contingências inerentes a uma primeira edição, esta Bienal de Artes Plásticas registou uma baixa adesão, não alcançando muitos dos objectivos que lhe estão subjacentes.” Acrescentando que na próxima Bienal vão reformular o Regulamento. Será que andam a treinar a organização de Bienais?
(também publicado na edição de 09/09/2009 do jornal Diário do Minho)

Sem comentários: