31/07/2009

Teatro Circo – a farsa está de volta à cidade

Depois de uma década de encerramento, o Teatro Circo reabriu em Outubro de 2006. Mesquita Machado, como é seu timbre, alardeou logo que era uma das melhores salas de espectáculos da Europa e arredores. A contratação de Paulo Brandão foi anunciada como se fosse o Cristiano Ronaldo dos programadores culturais. O Teatro Circo era apregoado como uma espécie de Santo Graal para a cultura bracarense. Elevaram-se as expectativas, fez-se o folclore do costume, procurando disfarçar atabalhoadamente o embaraço causado pela escolha da cidade de Guimarães para Capital Europeia da Cultura em detrimento de Braga.
Contrataram-se técnicos e demais pessoal, concessionaram-se espaços, adquiriram-se produtos e serviços, tudo isto sem concurso ou anúncio, tudo feito à moda de Braga. Não foi de admirar que os custos fixos de funcionamento (custos com pessoal, principalmente) disparassem para cerca de um milhão de euros por ano, a serem suportados integralmente pelo orçamento municipal.
O desnorte e a incapacidade da Administração do renovado Teatro Circo foram claros desde o início: como se justifica que decorridos apenas três meses da reabertura, o Administrador-Delegado Rui Madeira, tenha anunciado publicamente para breve o regresso das sessões de cinema e após todo este tempo, nada tenha acontecido?
A atitude assumida pela Administração do Teatro Circo foi altaneira, snob e elitista, como ficou demonstrado pelo afastamento dos Festivais de Tunas, dos grupos e eventos de Braga e dos artistas de cariz mais popular, que tiveram que procurar outros palcos. A arrogância inicial foi esmorecendo à medida que o tempo passava e os prejuízos se acumulavam – só nos primeiros 15 meses, a programação teve um resultado negativo superior a meio milhão de euros.
Ao longo dos três anos de funcionamento do Teatro Circo, apresentaram-se pouco mais de 100 eventos no Palco Alternativo, sendo a esmagadora maioria representações da Companhia de Teatro de Braga (CTB). Para este evidente subaproveitamento do palco secundário, pergunta-se porque se optou pela sua construção, resultando um empolamento enorme do custo das obras, que ascendeu a 25 milhões de euros?
Em 2009, a programação geral da responsabilidade do Teatro Circo tem sido duma pobreza confrangedora, salvando-se raras excepções. Cerca de metade dos eventos apresentados são representações da Companhia de Teatro de Braga, e para culminar este trajecto em beleza, o destaque da programação de Julho era a americana Kaki King (quem??...). Foi para isto que se contratou um programador-vedeta?
A programação não é feita a tempo e horas, sendo sintomático que a divulgação apresentada não publicita vários eventos realizados. Só em Julho, os espectáculos “A Cozinha” da responsabilidade da Arte Total, a reposição de “As Bacantes” da CTB e “Este Oeste Eden” da Escola da Noite, não tiveram qualquer referência na publicidade inserida na comunicação social. Em matéria de divulgação, considero absolutamente lamentável o blogue do Teatro Circo, que passa meses sem qualquer actualização. Um meio poderoso e grátis de divulgação da programação, que só depende do empenho e dedicação dos responsáveis da instituição, tem sido completamente negligenciado, e consequentemente tem uma média diária de visitas ridícula. É evidente que sem uma divulgação eficaz, a assistência potencial aos espectáculos reduz-se drasticamente. A página oficial do Teatro Circo também é bastante pobre e deficiente na informação que disponibiliza.
A Administração do Teatro Circo não demonstrou capacidade para de forma sustentada apresentar um projecto sólido e credível ao longo deste tempo, não conseguindo angariar qualquer patrocinador ou mecenas institucional para o Teatro Circo. Esperam, preguiçosamente, pela atribuição de subsídios públicos e de programas de financiamento para fazer aquilo que devia ser realizado com meios próprios. Pelo exposto, como se justifica a contratação de um programador que custa cerca de 14.000,00 euros/mês aos cofres bracarenses?
O Teatro Circo Café também tem sido um fiasco completo, estando sistematicamente fechado e sem qualquer relevância. Desconhecem-se os moldes em que foi projectado e concessionado, mas a sua desadequação é evidente. Procura-se agora, à pressa, reabri-lo, com esplanada a ocupar arbitrariamente toda uma artéria da cidade. Mais uma vez, os erros repetem-se: como foi concessionado? Quais foram os candidatos à concessão? Quem paga os investimentos que estão a ser feitos? Para quê montar uma esplanada daquele feitio virada para um estaleiro de obras, ainda para mais quando o Verão já vai a mais de meio?
Perante este cenário desolador redobram as expectativas, na área da cultura, para a anunciada 1.ª Bienal de Artes Plásticas de Braga a decorrer em Setembro próximo.
foto sacada em psombra
(também publicado na edição de 07/08/2009 do jornal Diário do Minho)

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