12/12/2007

O amor em tempos de angústia

O projecto Censura Prévia foi criado em 2002 por elementos ligados ao Teatro Universitário do Minho. Em 2005, depois de algumas festas e uma incursão pela Bracara Angustia, instalaram-se na Travessa do Caires, n.º 39 junto à Estação da CP, num edifício de vários pisos que baptizaram de Espaço.
A localização, apesar de relativamente próxima do centro da cidade, tem já traços de subúrbio. O Espaço, que parece ter sido anteriormente uma oficina (ou armazém) fica nas traseiras dos prédios da Rua do Caires, identificando-se pelo abat-jour colocado numa janela, reminiscente do tempo em que o edifício albergou uma casa de putas.
No marasmo cultural bracarense, a Censura Prévia propõe um projecto muito ousado e diferenciado. É notória a intenção de mexer com as coisas e com as pessoas, abrindo o Espaço à intervenção e participação, mas a localização periférica e o carácter marcadamente alternativo da programação dificilmente permitirão cativar um público alargado.
A audácia e a persistência necessárias para manter um projecto desta natureza em Braga e a qualidade das propostas apresentadas são os aspectos mais relevantes e admiráveis. Por outro lado, a fraca divulgação, a irregularidade da programação, o deficiente funcionamento do bar e a decoração/aspecto geral, poderiam ser melhorados.
O Espaço tem sido palco de inúmeros concertos de variadas correntes musicais, exposições/instalações, festas com DJ e VJ e o ciclo de mini-espectáculos “Para ficar a perceber ainda menos sobre o amor” nos últimos três dias de cada mês. Os espectáculos apresentados são da autoria de elementos da Censura Prévia ou de outros criadores que mantêm alguma afinidade com o projecto.
Para ficar a perceber ainda menos sobre o amor #6
Nos dias 29, 30 e 31 de Julho foi apresentado o 6.º mini-espectáculo “Para ficar a perceber ainda menos sobre o amor”, uma criação e interpretação colectiva de seis elementos da Censura Prévia. Com uma notável capacidade de improvisar com recursos muito escassos e de baixo orçamento - objectos comuns como cadeiras, cordas e molas, sacos, bidão, mangueira e um escadote, conseguem obter um brutal efeito cenográfico e sensorial.
Ao longo do espectáculo assistimos a solos e a interacções de grupo, aos momentos de acalmia sucede-se a maior desbunda, como no “Simple Men” de Hal Hartley onde os actores, de repente, começam a dançar freneticamente “Kool Thing” dos Sonic Youth. Os sacos de plástico cheios de líquido pendurados no tecto pingam ininterruptamente através de pequenos buracos até revelarem o que escondem no fundo. O capuchinho vermelho espera entediada pelo lobo mau que nunca aparece. Também há ironia indolente sobre os clichés dos clássicos shakesperianos, à pancada de Molière respondem com o teatro às três pancadas, iconoclastas e a borrifarem-se para a mecanização ensaiada das cenas.
Ouve-se música de Aphex Twin, Clã, Radiohead, Nancy Sinatra, kizomba e kuduro. Uma mangueira jorra água até inundar completamente a sala, o dilúvio mas sem o efeito purificador. Os actores desnudam-se, chapinham e rebolam na água, estatelam-se desamparadamente e partem os dentes no chão, inebriados, eufóricos e hedonistas.
O amor de todas as maneiras e feitios, sempre inexplicável e irracional – um gajo estranho com travo amargo e sem finais felizes.
Ficha artística:
Textos de Ana Arqueiro. António Gregório. Eva Malaínho. Homero. Molière e Sandra Andrade.
Criação e interpretação de Ana Arqueiro. Clara Alves de Sousa. Eva Malaínho. Luís Cardoso. romeulebres e Sandra Andrade.
fotos: Teresa Luzio

2 comentários:

valter hugo mãe disse...

amanhã estou na fnac de braga. ai de ti se não vais lá sorrir para mim. tenho medo de ficar sozinho. bute. abraço grande

erradiador disse...

nem imaginas o quanto eu gostaria de estar amanhã na fnac em braga para te dar um abraço forte, mas uns milhares de kms impedem-me de lá estar fisicamanente. estou certo que as coisas vão correr esplendidamente.