27/10/2007

esplendorosa borboleta de sangue

No inicio de setembro de 2005, de repente e sem aviso, o artista que ia expor na Velha-a-Branca cancela a exposição programada para esse mês. Não sendo possível antecipar a exposição seguinte e para a Velha não ficar com a galeria vazia, desafiei o valter hugo mãe para em conjunto improvisarmos uma intervenção que remediasse o imprevisto.
Assim, sem orçamento e com apenas 2 dias para conceber e concretizar o projecto, surgiu a exposição/instalação esplendorosa borboleta de sangue que ocupou a casa entre setembro e outubro de 2005 (o poema permaneceu ao longo das escadas durante bastante mais tempo).
Na altura, o valter preparava-se para ministrar o primeiro curso de escrita criativa, sendo já um poeta e editor com créditos firmados. Desconhecia, no entanto, que o valter era (é) um tipo multitalentoso e criativo, pois além de escrever e editar também desenha, declama e até canta magnificamente.
Há pessoas assim, generosamente tocadas pela mão do génio, e que admiramos e nos enchem de orgulho por sermos seus amigos.
Algumas das minhas influências para esta intervenção/instalação: Jenny Holzer, João Vieira, Laurie Anderson, Peter Greenaway, spoken word, vírus / infecção, portas de WC, Talk Radio – As Vozes da Ira, street art, W. Burroughs, K. Malevitch, Arnaldo Antunes, auto-da-fé, Fernando Calhau, Rui Chafes, Dante, Ana Hatherly, J. Beuys, gótico / austero / orgânico / mutante / transgressor, ideia de obra aberta: uma obra pode estar em movimento, criando a sua própria oportunidade para se alterar, para se modificar e até transformar completamente.
A intervenção/instalação ocupou diversos espaços desde o rés-do-chão até ao segundo piso. No rés-do-chão (ainda não havia a loja), estava gravado nas paredes o compromisso da velha, em forma de poema circular. Ao longo das escadas, no sentido ascendente, o poema às arrecuas escrito pela mão do valter acolhia e provocava os visitantes. Na galeria, a instalação “a angústia da página em branco”, possibilitava a participação das pessoas para escrever, desenhar, rabiscar, registar pensamentos profundos, amarfanhar ou até insultar. Na sala pequena localizada à entrada do piso do Bar estava a instalação “o fogo redentor”.

1. o poema às arrecuas
o poema subindo as escadas indica os caminhos superiores da casa e promete aventuras incríveis. prepara o espírito, não recuses, não te limites, não te assustes; nas fendas destas paredes vivem bichos que te admiram. gostam do teu porte, do teu entusiasmo e inteligência. se tiveres sorte podes ser escolhido para uma noite inesquecível entre bocas e patas, pêlos e agrilhões apaixonados.

2. o poema às arrecuas
o escaravelho de osso, a malvada fera dos buracos, o rastejante das unhas, o voador que fura, a esplendorosa borboleta de sangue, todos serão teus amigos, eufóricos e incansáveis com a intenção de te deixarem feliz. sê, pois, bem-vindo ao patamar dos licores e do jardim, e atenta nas luzes mais discretas, olhos medindo o teu corpo e abandono do teu corajoso coração.
fotos: Maximino Gomes

2 comentários:

fernanda disse...

Lindo!

Anónimo disse...

não gosto de ter perdido isto.

santiago

www.cadillac-obsceno.blogspot.com