Inaugurou em meados de Agosto a XIV Bienal Internacional de Arte de V.N. de Cerveira, prolongando-se até ao dia 29 de Setembro. Perto de comemorar 30 anos de existência (um dos eventos mais antigos nesta área em Portugal), a Bienal é subordinada ao tema “As novas cruzadas” apresentando várias exposições em Cerveira e nas localidades limítrofes de Valença, Caminha, Paredes de Coura, Melgaço, Monção e em Tui e Goian-Tomiño. Durante a Bienal decorrem também diversos eventos paralelos como concertos, colóquios, prova de vinhos, conferências, lançamento de um livro, etc. De tudo isto, pouco justifica a visita.
Do leque de exposições apresentadas na Bienal, destacam-se apenas as instalações de Zadok Ben-David, vencedor do Grande Prémio, e a de Pascal Nordmann, além, evidentemente, do painel “Ribeira Negra” de Júlio Resende. Ao nível dos eventos paralelos à Bienal, também nada de novo ou de muito relevante é apresentado.
Com o tema “As novas cruzadas”, a organização pretendeu apelar à natural contestação da arte e dos artistas, desafiando-os a criarem obras onde sejam evidenciados os conflitos entre o Médio Oriente e o Ocidente e as suas implicações sociais, políticas, religiosas e económicas. A formulação escolhida de “novas cruzadas”, já encerra em si todo um programa, evidenciando a adopção da perspectiva que o agressor é o Ocidente (cruzados) e o Médio Oriente a vítima pacífica e inocente.
O centro da Bienal é o Fórum Cultural de Cerveira, onde são apresentadas as obras do concurso, os artistas convidados, o painel de Júlio Resende e a exposição de homenagem ao casal Maeght. O modelo (ou a falta dele) adoptado na montagem da exposição está completamente desadequado, pois apresenta-se uma grande quantidade de obras, para “encher o olho” e dar ideia de grandiosidade, mas obtém-se o efeito contrário: trabalhos com qualidade são anulados por muitos outros medíocres colocados ao seu lado. O que se retém no final é uma impressão geral de fraca qualidade. O grande amontoado de obras não provoca qualquer inquietação ou reflexão, mas apenas uma overdose visual.
Também não se percebe o que estão lá a fazer as obras dos artistas convidados, pois não têm qualquer relação com a temática da Bienal. Fica-se com a ideia de que os nomes de Albuquerque Mendes, José de Guimarães, Miguel Palma, Gerardo Burmester, etc. estão lá apenas para darem alguma visibilidade e legitimação artística à Bienal.
O mesmo acontece relativamente à exposição de homenagem à Fundação Maeght, que dispõe de uma das mais importantes colecções de arte moderna de França, com obras de Giacometti, Miró, Bonnard, Braque, Chagall, Léger, Kandinsky, entre outros. Quem julga que vai poder apreciar obras originais daqueles artistas sairá defraudado, pois o que se apresenta são meras reproduções/litografias. Uma vez mais, é utilizado um nome sonante para servir de chamariz.
Vale a pena visitar a instalação “O Espirito do Lugar” de Pascal Nordmann, vencedor do Prémio Revelação, no salão dos Bombeiros de Cerveira. Estranha-se, no entanto, a atribuição do prémio, pois o artista já tem 50 anos de idade e esta instalação tem sido apresentada desde 2004, não se vislumbrando também qualquer relação com o tópico da Bienal. Em Caminha está a instalação “Black Field” de Zadok Ben-David, justo vencedor do Grande Prémio da Bienal. O artista israelita, doou os 10 mil euros do prémio para serem atribuídos a jovens artistas para apoiar a sua formação. As outras exposições espalhadas por Cerveira e arredores são maioritariamente constituídas por trabalhos académicos de estudantes de artes, arquitectura e design. Mesmo considerando que é meritório o apoio aos jovens não se compreende a pertinência no contexto da Bienal, das exposições “Arquitectura Design e Ecologia”, da exposição dos alunos da Escola de Artes de Coimbra, da exposição dos alunos de Arquitectura da Escola Gallaecia, etc. Também aqui, parece que houve apenas a intenção de apresentar exposições “a metro”, para dar a ilusão de que a Bienal tem uma dimensão regional. Mais uma vez, obtém-se um efeito perverso: exposições completamente deslocadas da temática da Bienal, esvaziam o seu sentido e relevância.
Esta edição da Bienal conta com um orçamento de 500 mil euros (cerca de 100 mil contos, na moeda antiga), repartidos pela autarquia (35%), pela empresa DST (30%), Ministério da Cultura (5%), e o restante dividido por diversos patrocinadores públicos e privados. A organização vem afirmando que o adiamento do reconhecimento da Fundação da Bienal e o reduzido suporte financeiro do Ministério da Cultura dificultam a angariação de mais e melhores apoios e uma maior internacionalização.
Sendo louvável a persistência da Bienal numa região periférica e desfavorecida, julgo que com um orçamento tão significativo seria de esperar muito mais qualidade, relevância e ambição.
Do leque de exposições apresentadas na Bienal, destacam-se apenas as instalações de Zadok Ben-David, vencedor do Grande Prémio, e a de Pascal Nordmann, além, evidentemente, do painel “Ribeira Negra” de Júlio Resende. Ao nível dos eventos paralelos à Bienal, também nada de novo ou de muito relevante é apresentado.
Com o tema “As novas cruzadas”, a organização pretendeu apelar à natural contestação da arte e dos artistas, desafiando-os a criarem obras onde sejam evidenciados os conflitos entre o Médio Oriente e o Ocidente e as suas implicações sociais, políticas, religiosas e económicas. A formulação escolhida de “novas cruzadas”, já encerra em si todo um programa, evidenciando a adopção da perspectiva que o agressor é o Ocidente (cruzados) e o Médio Oriente a vítima pacífica e inocente.
O centro da Bienal é o Fórum Cultural de Cerveira, onde são apresentadas as obras do concurso, os artistas convidados, o painel de Júlio Resende e a exposição de homenagem ao casal Maeght. O modelo (ou a falta dele) adoptado na montagem da exposição está completamente desadequado, pois apresenta-se uma grande quantidade de obras, para “encher o olho” e dar ideia de grandiosidade, mas obtém-se o efeito contrário: trabalhos com qualidade são anulados por muitos outros medíocres colocados ao seu lado. O que se retém no final é uma impressão geral de fraca qualidade. O grande amontoado de obras não provoca qualquer inquietação ou reflexão, mas apenas uma overdose visual.
Também não se percebe o que estão lá a fazer as obras dos artistas convidados, pois não têm qualquer relação com a temática da Bienal. Fica-se com a ideia de que os nomes de Albuquerque Mendes, José de Guimarães, Miguel Palma, Gerardo Burmester, etc. estão lá apenas para darem alguma visibilidade e legitimação artística à Bienal.
O mesmo acontece relativamente à exposição de homenagem à Fundação Maeght, que dispõe de uma das mais importantes colecções de arte moderna de França, com obras de Giacometti, Miró, Bonnard, Braque, Chagall, Léger, Kandinsky, entre outros. Quem julga que vai poder apreciar obras originais daqueles artistas sairá defraudado, pois o que se apresenta são meras reproduções/litografias. Uma vez mais, é utilizado um nome sonante para servir de chamariz.
Vale a pena visitar a instalação “O Espirito do Lugar” de Pascal Nordmann, vencedor do Prémio Revelação, no salão dos Bombeiros de Cerveira. Estranha-se, no entanto, a atribuição do prémio, pois o artista já tem 50 anos de idade e esta instalação tem sido apresentada desde 2004, não se vislumbrando também qualquer relação com o tópico da Bienal. Em Caminha está a instalação “Black Field” de Zadok Ben-David, justo vencedor do Grande Prémio da Bienal. O artista israelita, doou os 10 mil euros do prémio para serem atribuídos a jovens artistas para apoiar a sua formação. As outras exposições espalhadas por Cerveira e arredores são maioritariamente constituídas por trabalhos académicos de estudantes de artes, arquitectura e design. Mesmo considerando que é meritório o apoio aos jovens não se compreende a pertinência no contexto da Bienal, das exposições “Arquitectura Design e Ecologia”, da exposição dos alunos da Escola de Artes de Coimbra, da exposição dos alunos de Arquitectura da Escola Gallaecia, etc. Também aqui, parece que houve apenas a intenção de apresentar exposições “a metro”, para dar a ilusão de que a Bienal tem uma dimensão regional. Mais uma vez, obtém-se um efeito perverso: exposições completamente deslocadas da temática da Bienal, esvaziam o seu sentido e relevância.
Esta edição da Bienal conta com um orçamento de 500 mil euros (cerca de 100 mil contos, na moeda antiga), repartidos pela autarquia (35%), pela empresa DST (30%), Ministério da Cultura (5%), e o restante dividido por diversos patrocinadores públicos e privados. A organização vem afirmando que o adiamento do reconhecimento da Fundação da Bienal e o reduzido suporte financeiro do Ministério da Cultura dificultam a angariação de mais e melhores apoios e uma maior internacionalização.
Sendo louvável a persistência da Bienal numa região periférica e desfavorecida, julgo que com um orçamento tão significativo seria de esperar muito mais qualidade, relevância e ambição.
Esta foi a última Bienal dirigida por Henrique Silva, que se retira após quinze anos à frente do certame. Para o substituir foi designado Augusto Canedo. Espero sinceramente que o novo director consiga reunir uma equipa capaz de repensar e refundar a Bienal, apresentando um novo formato mais consentâneo com o nosso tempo e expectativas. Cerveira e o Minho bem o merecem.
(também publicado na edição de 10/09/2007 do jornal Diário do Minho)
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