"Nunca gostara de música, e parecia que a detestava mais que nunca; perguntou fugazmente a si mesmo o que o levara a lançar-se numa representação artística do mundo, ou mesmo pensar que uma representação artística do mundo era possível, pois o mundo era tudo menos um tema de emoção artística, o mundo apresentava-se em absoluto como um dispositivo racional, tão desprovido de magia como de particular interesse. Ligou a Autoroute FM, que se limitava a fornecer informações concretas: houvera acidentes para os lados de Fountainbleau e de Nemours, a marcha lenta continuaria provavelmente até Paris.
Estava-se no domingo 1.º de Janeiro, pensou Jed, não era apenas o termo do fim-de-semana mas também o de um período de férias, e o princípio de um novo ano para toda aquela gente que regressava, lentamente, provavelmente furiosa com a lentidão do trânsito, que chegaria agora às fronteiras dos arredores de Paris dali a algumas horas e que depois de uma curta noite voltaria ao seu lugar – subalterno ou proeminente – no sistema de produção nacional."
Michel Houellebecq - 'O Mapa e o Território' - 2010
Michel Houellebecq - 'O Mapa e o Território' - 2010
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