"A calma voltou a apossar-se dele e o medo desapareceu. «Vou subir ao rochedo e dormir um pouco», disse. Sentiu uma pequena dor no pulso e ergueu o braço para ver o que era. Tinha-se cortado numa fivela da sela; o pulso e a palma da mão sangravam. Olhando a ferida, a calma tornou-se mais firme em volta dele e a solidão separou-o do bosque e do resto do mundo. «Pois vou subir ao rochedo», disse. Trepou-lhe cuidadosamente pelo flanco íngreme até que ficou estendido sobre o musgo alto e fofo do cimo do rochedo. Depois de descansar uns momentos, agarrou de novo na faca e, com cuidado, suavemente, abriu as veias do pulso. A dor, a princípio, foi aguda, mas em breve esta sensação se atenuou. Joseph olhava o sangue que borbotava e ia escorrendo sobre o musgo e ouvia o clamor do vento em torno do bosque. O céu estava ficando cinzento. O tempo rolou e Joseph ficava cinzento também. Estava deitado de lado, com o pulso estendido, e baixou os olhos para a longa cordilheira negra do seu corpo. Este começou a tornar-se enorme e leve. Subiu ao céu, e dele começou a cair chuva em torrentes. «Eu devia ter sabido», suspirou Joseph. «Eu sou a chuva.»"
John Steinbeck - "A Um Deus Desconhecido" - 1933
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