01/10/2024

Olá, América!

“Wayne tratou de manter o olhar na paisagem que o rodeava – uma infindável sucessão de pequenas cidades poeirentas, e, pelo meio, depressões salinas – o terreno ideal para artemísias e erva-dos-burros. Apressou as mulas. Quanto mais depressa deixassem para trás as viaturas ali paradas a enferrujar, melhor. O seu olhar agora treinado já se apercebia das movimentações dos escorpiões, da cascavel escondida debaixo de um autocarro e que a sua aproximação deixara alerta ou de um monstro-de-gila que os cascos dos cavalos tinham vindo incomodar. Menos de um quilómetro adiante, um solitário milhafre ia rondando um desprecavido roedor do deserto. Sob um céu de metal fundido, a América parecia embalsamada na poeira, naftalinada na areia branca, à espera de um sopro poderoso que a ressuscitaria.”
J. G. Ballard – “Olá, América!” - 1981

Sem comentários: