14/09/2020

Belos e Malditos

"Gostava dos Jardins Johston, onde dançavam, em que um negro trágico proporcionava uma música cheia de ansiedade e dolorida num saxofone, até que tudo se tornava numa selva encantada de ritmos bárbaros e risos esfumaçados, e esquecer a passagem do tempo monótono nos doces suspiros e ternos murmúrios de Dorothy era a consumação de todas as aspirações, de todo o contentamento.
Havia uma vaga tristeza nela, uma evasão consciente de tudo, excepto das minúcias agradáveis da vida. Os seus olhos cor de violeta continuavam, durante horas, aparentemente vazios, como se, indiferente e sem pensamentos, dormisse como uma gata ao sol. Anthony imaginava o que a mãe, cansada e desanimada, pensaria deles e se nos momentos de menos optimismo compreenderia a realidade das suas relações.
Nas tardes de domingo passeavam pelo campo, descansando por vezes na relva seca, nas proximidades de um bosque. Ali, junto dos pássaros e das violetas, à sombra fresca das árvores, indiferentes ao calor, falavam, intermitentemente, num monólogo sonolento, sem sentido e sem respostas."
F. Scott Fitzgerald - “Belos e Malditos” – 1922

Sem comentários: