“Não sirvo para nada, disse Bruno
com resignação. Sou incapaz de criar porcos. Não tenho a mínima ideia sobre a
fabricação de salsichas, garfos ou telemóveis. Sou incapaz de produzir qualquer
desses objectos com os quais vivo e que utilizo ou devoro; nem sequer sou capaz
de compreender o seu processo de produção. Se a indústria tivesse de parar, não
era comigo que podia contar para recomeçar a produzir. Se me pusessem fora do
complexo económico-industrial, não estaria sequer em condições de assegurar a minha
sobrevivência. Não saberia alimentar-me, vestir-me, proteger-me dos rigores do
clima; as minhas competências técnicas individuais são inferiores às do homem
do Neandertal. Completamente dependente da sociedade que me rodeia, não lhe
sirvo, em troca, praticamente nada. Tudo o que eu sei fazer é produzir
comentários duvidosos sobre objectos culturais fora de uso. Contudo, recebo um
salário, até um bom salário, largamente superior ao da maioria das pessoas. E a
maior parte dos que conheço estão nas mesmas condições.”
Michel Houellebecq – "As Partículas
Elementares" - 1998
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