13/07/2019

Primeiro Amor, Últimos Ritos

“Desde o princípio do Verão até começar a parecer absurdo, púnhamos o colchão fino em cima da mesa de carvalho pesada e fazíamos amor em frente da grande janela aberta. Havia sempre uma brisa ligeira a soprar no quarto e os odores das docas quatro andares mais abaixo. Era assaltado por fantasias contra minha vontade, fantasias acerca do pequeno ser, e depois, quando ficávamos deitados de costas na mesa enorme, nos silêncios profundos, ouvia-o correr e arranhar de uma forma quase imperceptível. Tudo aquilo era novidade para mim, sentia-me inquieto e tentava conversar com a Sissel para me tranquilizar. Mas ela não tinha nada para dizer, nunca fazia abstracções nem discutia situações, pois vivia dentro delas. Ficávamos a contemplar o rodopio das gaivotas no nosso quadrado de céu e perguntávamo-nos se elas também nos estariam a ver; era desse género de coisas que falávamos, hipóteses ligeiramente divertidas sobre o momento presente.” 
Ian McEwan – “Primeiro Amor, Últimos Ritos” - 1975

Sem comentários: