15/11/2009

Húmus

“Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar roí e persiste…

Uma vila encardida – ruas desertas – pátios de lajes soerguidas pelo único esforço da erva – o castelo – restos intactos de muralha que não têm serventia: uma escada encravada nos alvéolos das paredes não conduz a nenhures. Só uma figueira brava conseguiu meter-se nos interstícios das pedras e delas extrai o suco e a vida. A torre – a porta da Sé com os santos nos seus nichos -, a praça com árvores raquíticas e um coreto de zinco. Sobre isto um tom denegrido e uniforme: a humidade entranhou-se na pedra, o sol entranhou-se na humidade.”
Raul Brandão – “Húmus” – 1917
Foto: Maximino Gomes

1 comentário:

asianuxxx disse...

Isso é giro! Grande colaboração, sim senhor. Um xi coração aos sobreviventes da Regional e limitada.