02/10/2009

O Balanço Negro da Cultura

A cultura tem sido sistematicamente o parente pobre da governação de Mesquita Machado à frente da Câmara de Braga. As expectativas para o mandato que agora termina não eram naturalmente muitas, não se esperava muito mais do que é costume, mas a reabertura do Teatro Circo e a promessa feita na ressaca da perda da Capital Europeia da Cultura para Guimarães, que Braga seria capital da cultura todos os dias, poderiam ser um prenúncio que algo iria mudar.
Infelizmente, confirmaram-se as piores expectativas e o balanço apresentado por Mesquita Machado dos quatro anos de mandato é disso o exemplo mais esclarecedor: Teatro Circo; “Braga Romana”; Mimarte – Festival de Teatro de Braga; Salas de Ensaio para bandas musicais; início da construção da Escola de Música no Carandá; projecto de requalificação da antiga Estação da CP.
O Teatro Circo reabriu há três anos e as expectativas criadas à sua volta foram completamente defraudadas, não conseguindo gerar qualquer dinâmica cultural na cidade. Os custos de funcionamento são elevadíssimos, muito contribuindo as remunerações principescas do Director Artístico Paulo Brandão e do Administrador-Delegado Rui Madeira, sem que daí resultem quaisquer mais-valias em termos de programação, que se limita a cumprir os serviços mínimos. Mais grave foi a opção pela construção do Palco Alternativo no piso inferior, que fez disparar a factura final da obra para inacreditáveis 25 milhões de euros. Em três anos de funcionamento realizaram-se pouco mais de 100 eventos nesse Palco, a esmagadora maioria dos quais apresentações da Companhia de Teatro de Rui Madeira. A opção correcta teria sido reabilitar o Teatro Circo na sua forma tradicional e utilizar o dinheiro esbanjado na sala de Rui Madeira para dotar a cidade de um Centro Cultural polivalente.
A inclusão da “Braga Romana” na actividade cultural é, no mínimo, hilariante: - tendas a vender todo o tipo de bugigangas, são cultura? - Barracas com comes e bebes, são cultura? – Mesquita Machado vestido com um lençol branco, é cultura?
Evidentemente, a “Braga Romana” nos moldes que é realizada não é cultura, mas sim animação de rua. Por este andar ainda vamos ver o jogo da sueca passar por cultura…
O Festival de Teatro Mimarte é uma boa iniciativa, que deve manter-se e alargar a sua intervenção a outros locais do Concelho de Braga.
Em relação às Salas de Ensaio para bandas de música instaladas numa das bancadas no Estádio 1.º de Maio, são relevantes, mas são uma obra do mandato autárquico de 2005. O desespero e a míngua de realizações na área cultural é tanta, que não houve outra solução para apresentar meia dúzia de linhas na acção cultural da Câmara, senão recorrer a obras de mandatos anteriores.
Por fim, a Escola de Música no fracassado Mercado Cultural do Carandá e o projecto de requalificação da antiga Estação da CP. Falamos aqui de propostas, ideias, projectos, promessas sempre adiadas, e não de obra feita.
Num tempo em que a cultura é considerada como um factor determinante para o desenvolvimento económico e social, com reflexos directos em áreas tão distintas como a indústria, comércio, turismo, educação, criação artística, investigação, tecnologia, atracção de novos habitantes e investimentos, etc., é penoso vermos a cidade de Braga desperdiçar todo o seu enorme potencial. Assim não vamos lá.
[também publicado na edição de 07/10/2009 do jornal Diário do Minho]

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