23/11/2007

Xeque à Quinta dos Peões

Foi anunciado recentemente o lançamento de um concurso de ideias para a Quinta dos Peões localizada em frente ao Campus de Gualtar da Universidade do Minho. Anteriormente, a Quinta era ocupada pelo Núcleo de Melhoramento do Milho do Instituto de Investigação Agrária, estando classificada como Reserva Agrícola Nacional. Seria do mais elementar bom senso que quando o Ministério da Agricultura prescindisse da Quinta, ela fosse para as mãos da Universidade do Minho. No entanto, em 1995 um Governo incompetente tratou de a vender em hasta pública por 900.000 contos à empresa Rodrigues & Névoa. A polémica em torno do negócio foi imediata devido ao receio sobre o destino que a imobiliária daria aos terrenos, numa zona já fortemente estigmatizada em termos de construção, tráfego rodoviário e poluição.
Ao longo dos anos, o processo da Quinta dos Peões tem sido objecto de sucessivas rondas de negociação entre o proprietário, a Câmara e a UM. Em traços gerais, daí resultou um acordo/protocolo onde a imobiliária cederia uma parcela de cerca de 4 hectares à Universidade como contrapartida para urbanizar/construir no terreno.
Entretanto, a Quinta tem sido o palco das últimas edições do Enterro da Gata, aparecendo periodicamente na comunicação social ora porque serve de depósito ilegal de detritos/areias que desqualificam e degradam o terreno, ou porque para aí está prevista a construção da nova sede da AAUM, ou por fim porque é um dos locais propostos para possível localização do Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento, que acabou por ir para os terrenos da Bracalândia.
Em finais de 1996 propus que a Quinta dos Peões revertesse de novo para o domínio público e fosse transformada em jardim botânico/parque da cidade. Esta solução sempre me pareceu a que melhor salvaguardava os interesses da UM e dos bracarenses:
- um jardim botânico dotado de grande biodiversidade, com estufas, espaços ajardinados com todo o tipo de árvores, plantas e flores, cursos de água, percursos pedestres e de manutenção, onde fosse possível desfrutar de uma paisagem natural aprazível, de tranquilidade e ar puro. Um espaço onde fosse possível passear, descansar, tirar fotografias, estudar, fazer piqueniques, etc.
- com esta solução poderiam ser aproveitadas as infra-estruturas e o know-how dos técnicos do Núcleo de Melhoramento do Milho, em conjunto com diversos Departamentos da UM para mostrar aos jovens e à população em geral a investigação e a ciência de forma pedagógica e lúdica;
- a Quinta dos Peões serviria de pulmão / zona tampão para o campus da Universidade podendo ser utilizada pela comunidade como local de investigação, de estudo, prática de desporto e zona de lazer;
- o jardim botânico / parque da cidade seria um espaço de interface / aproximação entre a Universidade e a cidade de Braga invertendo o distanciamento existente.

O concurso de ideias lançado pela empresa Rodrigues & Névoa, anunciado no Senado Universitário dando conta da participação de docentes do Dep. Arquitectura da UM no processo de selecção das propostas é uma forma ardilosa de facilitar os interesses da conhecida (nem sempre pelos melhores motivos) imobiliária bracarense. A empresa só poderá rentabilizar o seu investimento na Quinta dos Peões se puder edificar, mas sabe de antemão que a sua intervenção suscitará sempre polémica, pelo que pretende minimizar os seus efeitos, utilizando a capa da Universidade para caucionar o processo, dando-lhe em troca umas migalhas de terreno. A UM pela voz do seu Reitor diz-se muito sensibilizada com a preocupação do proprietário em salvaguardar “o ambiente e a vivência da comunidade académica”, revelando um pragmatismo excessivamente realista que considera umas migalhas melhores que nada.
Ao longo deste processo, a Câmara sempre afirmou que pouco podia fazer, a não ser servir de intermediário e que a responsabilidade era toda do Governo que alienou o terreno. Sendo certo que não foi a Câmara a fonte original do problema, Mesquita Machado tinha obrigação de afirmar, de forma inequívoca, que não viabilizaria qualquer construção no local, frustrando qualquer veleidade da imobiliária. Os superiores interesses da cidade e dos bracarenses assim o exigiam.
(também publicado na edição de 28/11/2007 do jornal Diário do Minho)

2 comentários:

Bourbonese disse...

Eu já nem comento assuntos relativos às influências de empresas de construção como a citada no domínio do (não) urbanismo em Braga. Veja-se o que se está a passar (ou melhor, já se passou!!!) com os terrenos à volta da provável Academia do SC Braga. Veloso diz-vos algo??? Já são todos dele!!! Há gajos que tinham jeito para lhe sair o Euromilhões todas as semanas. Estão sempre um passo à frente...

erradiador disse...

"Our lives begin to end the day we become silent about things that matter". - Martin Luther King